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Desmistificando um paranormal
Silvia Helena Cardoso
cardoso@nib.unicamp.br
Durante muitos anos, um bem conhecido homem com
poderes paranormais, realizou feitos
marcantes como a leitura de mentes (telepatia),
entortamento de colheres (telecinesia), suspensão de
objetos no ar (levitação) e busca de minerais
preciosos. Ele inspirou dezenas de escritores,
parapsicólogos e cientistas a divulgarem livros e
artigos sobre o seu poder mental, participou de vários
experimentos científicos conduzidos em laboratórios,
bem como a física dos metais entortados. Ganhou milhões
e milhões de dólares demonstrando publicamente seus
supostos poderes mentais, inclusive em programas de TV
assistidos por milhões. Este homem é conhecido em todo
o mundo, e certamente, também pelo leitor deste artigo.
Seu nome: Uri Geller.
Na década de 70 e 80, Uri Geller foi contratado por
companhias de exploração mineral em diversos países do
mundo. Em janeiro de 1980, a Newsweek reportou que
grandes quantidades de minérios foram encontradas na
África do Sul, por indicação de Uri Geller. Em 1983,
ele assinou um contrato milionário com uma corporação
japonesa para encontrar ouro no Brasil. O contrato foi
feito por um período de 6 meses com um pagamento
imediato de $1 milhão e mais outro tanto para o término
do trabalho. Ele também foi membro da Geller New York
Corporation, uma companhia de exploração de minérios
que acreditava aumentar a sua produção através de uma
competente equipe de geólogos especializados e da
peculiar função de Geller.
O seu prestigio alcançou todos os sistemas de
comunicação. Mais de 15 livros foram escritos sobre
ele, sendo que sete foram escritos por ele próprio. A
divulgação de seus poderes também foi feita pelos mais
respeitados jornais e revistas de circulação
internacional, tais como o Times, Nature, New Scientist,
The New York Times, Los Angeles Times e mais outras 20,
além de numerosas aparições no sistema de rádio e
televisão (inclusive no Fantástico!) de praticamente
todos os continentes. Há alguns meses (março de 1996),
Uri Geller apareceu na CNN alcançando uma audiência de
100 milhões de pessoas.
Uri Geller continuaria a ser visto e admirado por todo
o mundo como um homem com poderes extranormais, não
fosse a descrença de alguns estudiosos céticos, que
decidiram investigar mais de perto os poderes de
telepatia e telecinesia. Eles afirmaram, então, após
uma série de testes, que Geller era um grande
charlatão. Um desses céticos, o ilusionista
norte-americano, mundialmente reconhecido, James Randi,
demonstrou a facilidade com que se pode ludibriar
pesquisadores honestos e pouco desconfiados.
Em um maquiavélico modelo experimental, Randi enviou
dois de seus alunos (conhecedores de bons truques
ilusionistas) a um laboratório que estava recrutando
indivíduos paranormais para investigar a torção dos
metais. Estes voluntários tinham a missão de exibir
poderes paranormais (os quais na verdade, não passariam
de truques): eles adivinhariam o conteúdo de envelopes
lacrados, entortariam hastes metálicas, deformariam
objetos trancados em caixas lacradas. Quatro anos após,
aqueles dois voluntários seriam vistos como
estrelas psíquicas: foram feitos inúmeros
convites para demonstrações de seus poderes
paranormais em universidades e congressos, muitas
delas ao lado do próprio Uri Geller. Finalmente, em uma
entrevista coletiva, Randi e seus alunos revelaram a
farsa e fizeram críticas violentas aos poderes de Uri
Geller.
Baseando-se nestas acusações, Geller moveu uma
ação contra Randi, alegando difamação, mas ele se
saiu muito mal frente ao tribunal, por não responder bem
às questões do julgamento. Assim, a corte do distrito
americano, em Washington, decidiu, por três votos a
zero, condenar Geller, que deverá pagar uma sanção de
US $150.000.00.
Os fenômenos parapsicológicos são ainda obscuros e
inexplicáveis para a ciência. Acredito que todos nós
temos capacidades mentais escondidas, mas que podem ser
desenvolvidas com o exercício e a prática. Para aqueles
que se auto-intitulam paranormais, entretanto, seria mais
prudente comprovarem seus poderes com explicações
racionais, sob o risco de serem desacreditados por alguns
estudiosos céticos e caírem na rede de
modelos experimentais científicos onde, uma vez
detectadas controvérsias, elas serão pronunciadas com
rigor e criticismo.
Artigo publicado no jornal Correio Popular,
julho de 1996.
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Esta é a cópia
armazenada no G o o g l e da
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http://www.epub.org.br/correio/urigell.htm.
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