O que é Paranormal
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TESTES CIENTÍFICOS DA ASTROLOGIA
Nos tempos antigos, pensava-se que os objetos celestiais estavam
espalhados numa curta distância ao redor das nossas cabeças e
parecia, então, bastante razoável supor que os assuntos dos seres
humanos poderiam estar refletidos nos trânsitos ordenados dos corpos
celestiais através do céu noturno. Na Ásia, Oriente Médio e Novo
Mundo, esta crença ganhou diferentes versões daquilo que viemos a
conhecer como 'astrologia'.
Atualmente sabemos que as estrelas e planetas estão a distâncias
enormemente remotas e que as constelações zodiacais são na realidade
coleções de sóis que não mantém a menor relação entre si (e em
alguns casos, situados em galáxias diversas) localizados a enormes
distâncias da Terra. Este novo conhecimento torna muito mais difícil
acreditar que tais objetos possivelmente poderiam influenciar os
assuntos humanos mundanos, tais como a determinação de
características da personalidade de uma criança recém-nascida.
(Mesmo o nosso vizinho astronômico mais próximo, a Lua, capaz de
produzir as marés, exerce uma quantidade de atração gravitacional
minúscula sobre o recém-nascido: cerca de 1/12 bilionésimo da
atração gravitacional exercida pela própria mãe do bebê ou 1/7 do
bilionésimo da do prédio que circunda o mesmo.
Mas apenas porque não podemos identificar um mecanismo isto não quer
dizer que ele não existe. A Astrologia persiste na ausência de um
mecanismo de funcionamento demonstrável porque simplesmente ela
'funciona', ou seja, os praticantes e clientes estão satisfeitos com
os resultados. Até muito recentemente, a astrologia era
primariamente utilizada como um método para realizar predições, mas
com o advento da astrologia 'humanística', introduzida por pioneiros
Teosofistas como Marc Edmund Jones e Dane Rudyar nos anos 20 e 30, a
astrologia (pelo menos no mundo ocidental) passou a apresentar
também um crescente papel no aconselhamento psicológico e
psicoterapia. A Astrologia continua distinta de outras formas de
psicoterapia pela sua ênfase na carta natal, que posiciona de forma
diagramática as posições do sol, lua, planetas e estrelas no céu no
momento exato e lugar de nascimento. A suposição aqui é que a carta
natal fornece informações significantes sobre a personalidade do
cliente.
Seria esta suposição verdadeira? Se for, então a astrologia situa-se
separada dos demais sistemas de aconselhamento, ao fornecer uma
técnica eficiente e imensamente importante para a avaliação da
personalidade. Se não, então ela envolve uma série de suposições
desnecessárias e potencialmente capazes de criar confusão no
processo de terapia. Na melhor das hipóteses, poderia fornecer um
sistema simbólico único (os signos zodiacais e planetas) e ponto de
partida (carta natal) para a exploração de elementos da
personalidade; na pior das instâncias, seria perigosamente enganosa
ao cliente, se baseada em suposições falsas.
Existem pelo menos duas maneiras de testar as afirmações dos
astrólogos de serem capazes de descrever com detalhes a
personalidade de um indivíduo a partir da sua carta natal. De
início, podemos confiar no julgamento da própria pessoa sobre o
acerto da interpretação astrológica. Em segundo lugar, podemos
comparar a interpretação astrológica com os resultados de outras
técnicas de avaliação da personalidade, por exemplo, testes de
personalidade padronizados, ou então no julgamento realizado pelos
parentes próximos da pessoa analisada.
Um teste cuidadosamente realizado, utilizando ambos estes enfoques
foi relatado na edição de 5 de Dezembro de 1985 da altamente
prestigiada revista científica Nature, realizado pelo físico Shawn
Carlson, que trabalhou juntamente com conselheiros astrológicos
indicados pelo Conselho Nacional para a Pesquisa Geocósmica para
planejar o experimento. Vinte e oito astrólogos participaram, todos
recomendados pelos conselheiros astrológicos porque estes
apresentavam algum tipo de treinamento em psicologia e uma
familiaridade com testes de personalidade que seriam utilizados nos
experimentos, e 'eram altamente considerados' pelos seus pares.
O teste incluiu 177 indivíduos na sua primeira parte e 116 na
segunda, todos apresentando provas documentais de seus locais e
horários de nascimento. Para excluir qualquer viés anti-astrologia
no julgamento das interpretações das cartas natais, indivíduos que
indicaram que eles 'desacreditavam intensamente' na astrologia foram
eliminados do experimento, de outro lado, indivíduos que
'acreditavam intensamente' na astrologia foram mantidos, contanto
que nunca tivessem visto as suas cartas natais previamente. O teste
foi duplo-cego: nem os experimentadores nem os astrólogos sabiam a
que indivíduos correspondiam quais cartas natais ou perfis de testes
de personalidade. Os testes de personalidade utilizados foram o IPC
(Inventário de Personalidade da Califórnia), escolhido pelos
astrólogos como capaz de medir atributos 'mais próximos aos
discerniveis pela Astrologia'.
Os resultados? A Astrologia saiu-se mal na primeira parte do teste,
que testava a habilidade dos indivíduos testados em reconhecerem os
seus próprios perfis de personalidade astrológica a partir de dois
outros mais que foram escolhidos ao acaso. Os indivíduos testados
tinham a mesma probabilidade de escolherem o perfil correto como
sendo a pior escolha ou classificá-la como segunda ou primeira
melhor escolha.
Este resultado concorda com numerosos outros estudos, incluindo oito
(três dos quais foram relatados em jornais astrológicos) citados
numa revisão feita por Geoffrey Dean: Does Astrology Need to Be
True? Parts 1 and 2('Será que a Astrologia Precisa Ser Verdade?
Partes 1 e 2') no livro The Hundreth Monkey and Other Paradigms of
the Paranormal, ('O Centésimo Macaco e Outros Paradigmas do
Paranormal') editado por Kendrick Frazier, Prometheus, 1991. Todos
estes estudos descobriram que os indivíduos ficavam tão satisfeitos
com a interpretação errada da carta natal quanto com a correta. Num
estudo realizado por Dean, onze indivíduos receberam cartas natais
detalhadas e interpretações, enquanto que outros onze receberam
cartas planejadas para oferecerem leituras exatamente opostas à sua
verdadeira carta natal (por exemplo; 'estável' ao invés de
'instável', 'extrovertido' ao invés de 'introvertido', etc.). Os
indivíduos que receberam as leituras revertidas as classificaram tão
alto quanto aqueles que receberam as interpretações corretas.
O segundo tipo de teste, desenvolvido na parte dois do estudo da
Nature, compara as interpretações da carta natal com um julgamento
obtido de outra fonte que não o do próprio indivíduo. Astrólogos
foram solicitados a parearem uma interpretação natal que eles haviam
feito pessoalmente com um dentre três perfis do IPC, realizando
primeiras e segundas escolhas e classificando sua validade numa
escala de um a dez. Eles escolheram o IPC correto apenas em um terço
das vezes, a taxa que se esperaria de um evento governado apenas
pelo acaso. Esta taxa permaneceu constante para as suas segundas e
terceiras escolhas, significando que um astrólogo tinha a mesma
possibilidade em escolher a IPC correta tanto como sendo a pior ou
melhor correlação. A validade da escolha também não se situou acima
do acaso: uma relação correta tinha a mesma possibilidade de receber
uma nota baixa quanto alta e vice-versa.
Estes resultados são consistentes com os resultados obtidos em
outros estudos. Por exemplo, num estudo realizado em 1984 por G. A.
Tyson, parentes próximos dos indivíduos testados foram incapazes de
identificarem o perfil do mesmo entre um grupo de perfis numa
probabilidade acima do acaso. Como os indivíduos testados, os
parentes tinham a mesma chance de favorecerem o perfil incorreto
quanto o correto.
Uma terceira forma de testar a astrologia é a de determinar se
diferentes astrólogos produzem essencialmente a mesma interpretação
a partir da mesma carta natal. Se forem capazes disto, então o
método pelo menos é consistente, embora a sua especificidade ainda
fique para ser provada. Mas se as interpretações não concordam entre
si, então temos de concluir que o próprio método é falho e talvez
aceitarmos a possibilidade de que as interpretações das cartas
natais são essencialmente casuais.
Tal teste foi realizado por G. Dean em cooperação com 90 astrólogos,
cuja maioria concordou com os protocolos da pesquisa e foi relatada
no jornal astrológico Correlation, em 1985. De 1198 indivíduos que
realizaram o Inventário de Personalidade de Eisenck, Dean selecionou
os 60 indivíduos que apresentavam os maiores índices de extroversão,
os 60 mais introvertidos, os 60 mais estáveis e os 60 mais instáveis
(cada uma destas categorias representando os sete porcento
superiores e inferiores da população em geral, possuidores dos
traços de caráter que os astrólogos confiavam serem capazes de
identificar. Quarenta e cinco astrólogos receberam as cartas natais
dos indivíduos selecionados e indicaram quais dos quatro extremos
melhor se encaixava com cada uma delas e qual era a confiança que
tinham neste seu julgamento. Outros 45 astrólogos não receberam
nenhuma carta natal e simplesmente tentaram adivinhar.
Os astrólogos que receberam as cartas natais não foram melhores que
os seus colegas que meramente 'adivinharam' (ou seja, a nível do
acaso), na identificação do traço de personalidade correto: uma
pessoa 'instável' tinha a mesma possibilidade de ser julgada
incorretamente como sendo 'estável', 'extrovertida' ou
'introvertida' quanto ser julgada corretamente como 'instável' por
um dado astrólogo. Os julgamentos sobre os quais os astrólogos
sentiam-se os mais seguros tinham a mesma possibilidade de estarem
errados quanto os julgamentos dos quais os astrólogos apresentavam
baixa certeza de acerto. Eles julgaram o mesmo indivíduo
'introvertido', 'extrovertido', 'estável e 'instável' em números
iguais.
Este último resultado, de que quando trabalhando de maneira
independente, os astrólogos acabam fornecendo interpretações
radicalmente diferentes para a mesma carta natal, é apoiado por
numerosos outros estudos (sete são citados no artigo de Dean
mencionado acima). Num estudo de 1986, o maior deste tipo de testes
jamais realizado, os pesquisadores alemães, U.Timm e T. Köberl não
encontraram evidências de concordância nas interpretações de cartas
natais entre 178 astrólogos diferentes.
Embora a Astrologia tenha se saído mal nos testes científicos
citados acima, existe um outro corpo de evidências que é
freqüentemente utilizado para conferir apoio às suas afirmações: o
trabalho do estatístico Francês Michel de Gauguelin, que investigou
a astrologia de 1949 até sua morte em 1991. Gauguelin agrupou uma
base de dados de mais de 100.000 indivíduos, incluindo dados de
nascimento e traços de personalidade e afirmou ter encontrado uma
conexão muito pequena mas significante (tipicamente se afastando das
expectativas do fenômeno estudado ser apenas determinado pelo acaso,
de 2 a 3 porcento), especialmente entre as ocupações de certas
pessoas famosas e a posição de planetas em particular (a Lua, Vênus,
Marte, Júpiter e Saturno), no momento de seus nascimentos.
Desafortunadamente para os astrólogos, Gauguelin foi um poderoso
detrator de todas as formas de prática astrológica, passadas e
presentes. De acordo com ele, seus resultados mostram
conclusivamente que não existe nenhuma conexão entre a personalidade
e as posições dos signos zodiacais, o sol, ou qualquer outro
planeta, exceto aqueles mencionados acima. No caso dos planetas
significantes, a maioria dos efeitos que Gauguelin descobriu
aplicam-se apenas para pessoas extremamente famosas em certas
profissões, por exemplo, nos esportes, ciência, medicina, e não
apresenta relações com os efeitos tradicionalmente conferidos às
posições e relações planetárias tal como oferecidas pela astrologia
convencional. Assim, seja qual for a causa, os achados de Gauguelin
não podem ser utilizados para conferirem validade para a carta natal
em termos da interpretação da personalidade. Um número de estudos
interessantes estão sendo desenvolvidos por outros pesquisadores
Europeus que parecem, uns confirmar os achados de Gauguelin enquanto
que outros os contradizem, portanto seria prematuro retirar alguma
conclusão definitiva sobre este intrigante ramo da 'astrologia
estatística' (Uma revisão interessante pode ser encontrada na seção
Astrology: A Critical Review, por I.W.Kelly et.al, no livro
Philosophy of Science and the Occult, editado por Patrick Grim,
State University de New York Press, 1990).
Os estudos descritos aqui apoiam a conclusão de que não existe
nenhuma conexão entre a carta natal astrológica e personalidade. Se
assim for, então uma carta natal detalhada é menos importante na
prática da astrologia humanística do que a habilidade do astrólogo
como conselheiro que, como qualquer outro bom terapeuta, deve guiar
o cliente através do difícil processo de introspeção utilizando
habilidades e métodos de aconselhamento mais rotineiros. Mas se os
astrólogos são primariamente conselheiros isentos de qualquer tipo
de conexão mágica à personalidade do cliente, então seria importante
pelo menos considerar a opinião de Shawn Carlson que, depois do seu
estudo publicado na Nature, concluiu que se os astrólogos desejam
ser terapeutas, 'então eles deveriam ser solicitados a praticarem
nos mesmos padrões das demais terapias, ou seja, deveriam receber
treinamentos e certificados nas técnicas terapêuticas convencionais
antes que viessem a aconselharem pacientes.'
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