O que é Paranormal
e Pseudociência?
Artigos em foco
Dicionários e Glossários
Livros de Paranormal
e Pseudociência
Links
|
Paranormal e Pseudociência em exame
|
|
Transcomunicação Instrumental:
Vozes dos Mortos?
por
James E. Alcock
Quando falamos em comunicação com os mortos, geralmente nos
referimos a “médiuns” que falam pela gente com os mortos, ou que
permitem que os mortos falem através de si. E se em vez disso os
mortos pudessem falar conosco diretamente, sem intermediários?
Imagine por um momento que você é o morto, que seu corpo sucumbiu
mas a sua mente / personalidade / alma sobreviveu. Você está
surpreso com isso e quer contar aos outros, especialmente aos seus
amigos céticos, tudo o que está acontecendo – você quer comunicar-se
conosco.
Você não tem cordas vocais, portanto não consegue falar. Você não
tem braços nem pernas ou quaisquer meios de mover objetos. Mas você
é – como eles dizem – um “campo de energia.” Poderia você nos
alcançar interferindo nos campos energéticos de aparelhos
eletrônicos, de um rádio ou gravador de fita, por exemplo?
Mas se você fosse capaz de gerar alguns sons num gravador de fita,
poderia alguém detectá-los, e prestar-lhes atenção? Geralmente é
difícil detectar sinais fracos – e você nada mais é do que um
espectro, um espírito, e provavelmente sem muita energia.
Contudo, há esperança para os seres humanos, como diz Ray Hyman,
porque os humanos são os melhores detectores de padrões que existem.
Detecção de padrões, neste exemplo, seria a habilidade de
discriminar o sinal entre ruído. É exatamente isso que está acontecendo,
segundo algumas pessoas. Se você escutar cuidadosamente, dizem eles,
você pode ouvir as vozes dos mortos nas gravações de fita.
Num site da Internet (www.hauntedhike.com) somos informados que
a TCI
(Transcomunicação Instrumental) é um processo em que trechos de voz
ou vozes são embutidos na gravação em fita magnética através de um
processo que ainda não é bem compreendido. A voz embutida do
“fantasma” pode ser ouvida quando a fita é tocada num gravador de
fita comum.
A Internet (www.mdani.demon.co.uk) nos informa
também que “As
gravações tipicamente duram somente alguns minutos. Isto acontece
porque é necessária concentração intensa para se ouvir as vozes na
fita, que geralmente tem que ser tocada repetidas vezes para se
decifrar as palavras. O uso de fones de ouvido é recomendado.”
A melhor maneira de entender o desenvolvimento da TCI é retroceder
um pouco no tempo.
Com a ascensão do Espiritismo começando com as “batidas misteriosas”
das irmãs Fox no século dezenove, têm havido muitas tentativas de
“contato com os mortos” realizadas a título de estudos
científicos.
Thomas Edison vislumbrou novas tecnologias, algumas das quais ele
inventou, como um meio através do qual os espíritos poderiam tentar
se comunicar conosco. Aparentemente, ele esforçou-se para fazer
contato através de um tipo de aparelho fonográfico na década de
1890. Então, no final da década de 1920, ele tentou fazer contato
com os espíritos de defuntos queridos através de um certo tipo de
equipamento químico. Diz-se que vozes de espíritos foram captadas
pela primeira vez em gravações fonográficas em 1938, sete anos após
a sua morte.
Contudo, foi com Friedrich Jürgenson (1903-1987) que o estudo da TCI
realmente se inicia. Jürgenson era em alguns aspectos um homem da
Renascença – arqueólogo, filósofo, lingüista, um pintor que foi
comissionado pelo Papa Pio XII, cantor de ópera, e produtor de
documentários cinematográficos. O interesse de Jürgenson em
Transcomunicação Instrumental aparentemente começou quando, após ter
gravado gorjeios de pássaros num gravador de fita, ele podia ouvir
vozes humanas nas fitas, mesmo que não houvesse ninguém nas
proximidades.
Este evento surpreendente naturalmente despertou seu interesse, e
ele voltou sua atenção para realizar gravações do nada – ou seja,
gravações feitas num lugar tranqüilo sem ninguém por perto. Ele
continuou a detectar vozes nessas fitas, e seus estudos levaram à
publicação em 1964 do livro Rosterna fran Rymden (“Vozes do
espaço”), traduzido para o português com o título de “Telefone para o
Além”.
Subseqüentemente ele reconheceu algumas das vozes apanhadas no seu
gravador de fita, incluindo a da sua mãe, que o chamava pelo seu
apelido carinhoso. Contudo, sua mãe já era falecida e lhe parecia
natural presumir que ela estava se comunicando do além-túmulo.
Assim, ele chegou à conclusão de que todas as vozes que ele havia
gravado eram vozes de pessoas mortas. Em 1967 publicou Sprechfunk
mit Verstorbenen (“Rádio-link com os mortos”).
O Dr. Konstantin Raudive (1906-1974), um estudioso de Carl Jung, era
um psicólogo da Letônia que lecionava na Universidade de Uppsala na
Suécia. Ele esteve absorvido em interesses parapsicológicos durante
toda a sua vida, e especialmente com a possibilidade de vida após a
morte, e se manteve em contato íntimo com os maiores pesquisadores
psíquicos Britânicos.
Em 1964 Raudive leu o livro de Jürgenson, "Telefone para o Além", e
ficou tão impressionado que arranjou um encontro com Jürgenson em
1965. Ele então trabalhou com Jürgenson para realizar algumas
gravações de TCI, mas seus primeiros esforços deram pouco resultado,
se bem que eles acreditavam poder ouvir vozes muito fracas e
abafadas.
Contudo, certa noite, quando ouvia uma gravação, ele escutou claramente muitas vozes e quando reproduzia a fita repetidas vezes
começou a entendê-las todas – algumas em alemão, outras em
letão, outras em francês. A última voz na fita – uma voz femininina –
dizia “Va dormir, Margarete” (“Vá dormir, Margarete”).
Raudive escreveu posteriormente (em seu livro Breakthrough): “Estas
palavras me causaram uma impressão profunda, pois Margarete
Petrautzki tinha morrido recentemente, e a sua doença e morte tinham
me afetado muito.” Atônito com tudo isso, ele começou então a
pesquisar tais vozes por conta própria, e passou a maior parte dos
seus últimos dez anos de vida explorando fenômenos de voz
eletrônica. Com a ajuda de diversos especialistas em eletrônica, ele
gravou mais de 100.000 fitas de áudio, a maioria das quais foram
realizadas sob o que ele descreveu como “condições estritas de
laboratório”. Às vezes ele colaborava com Hans Bender, um
parapsicólogo alemão muito conhecido. Mais de 400 pessoas foram
envolvidas em sua pesquisa, e todas aparentemente ouviram as vozes.
Isto culminou com a publicação em 1971 do seu livro Breakthrough,
anteriormente mencionado. Seu impacto foi tal que estes fenômenos
são agora comumente conhecidos simplesmente como “vozes Raudive.”
Raudive desenvolveu diferentes abordagens para gravação de TCI, e
ele se referia a:
-
Vozes de microfone: deixa-se simplesmente o gravador de
fita rodando, sem ninguém falando; ele dizia que podia-se mesmo
desconectar o microfone.
-
Vozes de rádio: grava-se o ruído branco (de fundo) de um
rádio que não está sintonizado em nenhuma estação.
-
Vozes de diodo: grava-se a partir do que é essencialmente
um receptor de cristal (diodo) não sintonizado em qualquer estação.
Raudive delineou várias características das vozes (conforme
apresentadas em Breakthrough):
-
“As entidades que emitem as vozes falam muito rapidamente,
numa mistura de línguas, às vezes com cinco ou seis línguas numa única
sentença.”
-
“Elas falam num ritmo definido, que parecer ser-lhes
forçado.”
-
“O modo rítmico impõe um estilo curto, telegráfico, às
sentenças ou frases.”
-
Provavelmente por causa disso, “... as regras gramaticais
são freqüentemente abandonadas e abundam os neologismos.”
É claro que, para o cético, estas características são o que se pode esperar
se na verdade as “vozes” são simplesmente interpretações errôneas de ruído
“branco”, aleatório.
A TCI na atualidade
Os parapsicólogos sérios da atualidade praticamente não demonstram
nenhum interesse em TCI, e trabalhos modernos na literatura
parapsicológica não acham qualquer evidência de algo paranormal
nessas gravações. Isso não desanima os fiéis, é claro. Dizem que há
mais de 50.000 sites na Internet devotados à TCI. Aqui vai um
exemplo (traduzido) da Internet:
“Em resumo, transcomunicação instrumental (TCI) é o processo de
capturar mensagens do mundo dos espíritos, incluindo nossos entes
queridos no Céu, usando um gravador de fita comum. Sim, alguém da
sua família ou um amigo íntimo seu, falecido, podem gravar ou imprimir
suas vozes na fita. A finalidade deste site não é explicar a TCI em
detalhes, mas por favor sinta-se à vontade para visitar os links de
aprendizado dados a seguir para obter maiores informações. Nosso site
foi planejado para ajudar você, um iniciante, a obter sucesso com TCI.”
(www.paranormalnetwork.com)
E agora afirmam que não é nem mesmo preciso ficar calado enquanto se
faz as gravações – freqüentemente as vozes aparecem no fundo
enquanto se está gravando uma conversação. Considere estes exemplos
de
(www.paranormalnetwork.com):
Voz do morto?
Aqui nos dizem para escutar uma voz feminina sussurrante dizendo "we
all turn this way" ou "we all turn that way" gravada por “Karen and
Jill” no túmulo de Edgar Allen Poe no dia do seu aniversário. (A
parte importante da gravação é repetida cinco vezes para que você a
entenda.)
[Escute]
Voz do morto?
No meio da gravação, dizem-nos que uma voz sussurra “Pat!"
[Escute]
Não há limite para os esforços que as pessoas farão para achar
“vozes.” Por exemplo, afirmam que:
“Algumas vozes de espíritos ou entidades estão quase no nível do
ruído de fundo; outras podem ser claramente ouvidas. Se a fala é
difícil de entender, lembre-se que o espírito que fala pode estar
falando numa língua ou dialeto que não é de uso comum hoje em dia. A
voz pode também estar invertida, você precisaria de um computador
para revertê-la e então conseguir ouvi-la.” (www.blueskies.org)
Um outro exemplo do entusiasmo e criatividade desenfreados
associados com descobrir vozes está na American Association of
Electronic Voice Phenomena. Seu website informa-nos que:
“A associação inclui pessoas que gravam vozes paranormais, imagens e
informação de amigos e entes queridos do além através de
gravadores de fita, telefones, equipamentos de fax, televisão,
computadores e gravadores de vídeo.”
“A TCI tem sido abordada em publicações técnicas tais como “Popular Mechanics" e "Wireless World." Foi recentemente mostrada num filme
chamado “O Sexto Sentido”. Sarah Estep, uma das mais famosas
gravadoras de TCI do mundo, tem comparecido a canais de TV a cabo
tais como Discovery e Sci-Fi com suas numerosas gravações de TCI. O
porquê da TCI continuar desconhecida pelo grande público, continua a
nos causar espanto. A TCI pode proporcionar uma imensa sensação de
conforto aos desolados pela perda de parentes, e fornecer provas
documentadas aos investigadores do paranormal.”
E se surfarmos a web, cedo ou tarde achamos sites que oferecem
à venda aparelhos que ajudam a obter gravações melhores!
Possíveis explicações
Bem, se as vozes não são espíritos, são o quê?
-
Modulação cruzada. Este é um fenômeno comum; eu tomei
conhecimento dele pela primeira vez na década de 1960 quando o meu
gravador de fita claramente captou uma estação de rádio local, que
podia ser ouvida entre trechos das gravações. Mas Raudive descartou
esta possibilidade, dizendo que não pode ser rádio já que nunca se
escuta música ou outros elementos de transmissão radiofônica.
-
Apofenia. Esta se refere a um fenômeno perceptual comum onde
percebemos espontaneamente conexões e encontramos significado em
coisas que não possuem relação entre si. Em outras palavras, isso
envolve ver ou ouvir padrões onde na realidade nenhum existe. Um
exemplo visual são os testes de borrões de tinta do tipo Rorschach.
Nós podemos ser os melhores detectores de padrões que existem, mas
nem todos os padrões que achamos têm qualquer significado objetivo.
Contudo, uma vez que pensamos ter detectado um padrão, é difícil
ignorá-lo, e geralmente o tomamos como significante. Um exemplo
comum de apofenia ocorre quando estamos tomando banho de chuveiro
e erroneamente pensamos ter ouvido tocar a campainha da porta ou do
telefone. O ruído branco produzido pelo chuveiro contém um largo
espectro de sons, incluindo aqueles que caracterizam toques de
campainha. O ouvido capta certos sons do espectro, e nós
“detectamos” um padrão que corresponde grosso modo a uma campainha.
A apofenia é praticamente sinônimo do que tem sido chamado de
pareidolia, uma ilusão envolvendo erro de percepção de um estímulo
externo; um estímulo obscuro é visto como algo claro e distinto.
Exemplos incluem casos tais como quando dezenas de pessoas no Novo
México viram a face de Jesus numa tortilha em 1978. Esta percepção,
ou percepção errônea, não envolve esforço consciente ou algum estado
mental particular, e a ilusão não se desvanece mesmo quando se
presta maior atenção ao estímulo porque ele é tão ambíguo que não
tem nenhum significado objetivo.
(Veja diversos exemplos em http://thefolklorist.com/ )
Enquanto se possa aceitar a apofenia como uma explicação para
vozes mal distinguíveis da estática, poderia ela explicar as “vozes
claras” dos exemplos acima (como o caso da palavra “Pat” na fita)? Em
primeiro lugar, é evidente que as vozes estranhas, se realmente
estão lá, poderiam ser o resultado de interrupções do ruído de
fundo, propositais ou não, feitas por pessoas reais – as gravações
não foram feitas sob qualquer tipo de condições controladas. Em
segundo lugar, como discutiremos a seguir, é fascinante verificar
como é fácil que nossos cérebros cheguem a interpretar certos
padrões de ruído como palavras, desde que saibamos que palavras
devem ser.
O que está acontecendo?
A percepção é um processo muito complexo, e quando os nossos
cérebros tentam achar padrões são guiados em parte pelo que
esperamos ouvir. Se você está tentando ouvir seu amigo numa conversa
em sala barulhenta, seu cérebro automaticamente tira pequenas
amostras de som e compara-as com algumas palavras correspondentes
possíveis, e guiados pelo contexto, podemos muitas vezes “ouvir”
mais claramente do que poderíamos esperar dos padrões de som que
chegam aos nossos ouvidos. Na verdade, é relativamente fácil
demonstrar num laboratório de psicologia que as pessoas podem
conseguir ouvir “claramente” mesmo vozes muito abafadas, desde que
tenham na sua frente uma versão impressa que lhes diga que palavras
estão sendo faladas. O cérebro junta a dica visual e o sinal
auditivo, e nós realmente “escutamos” o que estamos sendo informados
está sendo dito, mesmo que sem aquela informação não poderíamos
discernir nada. Indo um pouco além, podemos demonstrar que as
pessoas ouvem “claramente” vozes e palavras não só no contexto de
vozes abafadas, mas num padrão de ruído branco, um padrão no qual
não existem nem vozes nem palavras de espécie alguma.
Uma vez que podemos rotineiramente demonstrar este efeito, é apenas
parcimonioso sugerir que o que as pessoas ouvem com TCI é também o
produto de seus próprios cérebros e de suas expectativas, e não as
vozes de mortos queridos.
Podemos assim descrever as etapas do processo: somos informados que
gravações em fita feitas sem ninguém por perto contém vozes
misteriosas. Isto induz um estado mental que nos motiva a tentar
discernir vozes. Ou seja, devemos presumir que deve haver algo lá,
ou não gastaríamos nosso tempo ouvindo. Se outros nos contaram o que
as vozes parecem dizer, esta expectativa influencia nossa percepção
auditiva, de modo que nossos cérebros “casam” pedaços de ruído
branco com as palavras que esperamos ouvir. Evidentemente, se
reproduzimos o mesmo pedaço de fita repetidas vezes, como é
explicitamente recomendado em alguns websites citados anteriormente,
e se focalizamos nossa atenção ao máximo no “ruído” (talvez
escutando com fones de ouvido, ainda como recomendado pelos websites),
então nós não somente aumentamos a probabilidade de discernir vozes
se estiverem realmente lá, mas nós maximizamos a oportunidade para
que o aparelho perceptual no nosso cérebro “construa” vozes que não
existem, detecte padrões que combinem com nossas expectativas.
Então, uma vez que “ouvimos” vozes, fica fácil, dado o estado mental
usualmente envolvido, atribuí-las a indivíduos mortos. Esta
interpretação provavelmente produzirá uma reação emocional
impressionante e uma vez que agora ouvimos aquilo que pretendíamos
ouvir (a expectativa se realizou) nossa crença na realidade das
vozes dos mortos cresce, e isso pode ser recompensador de vários
modos. Tal resultado provavelmente aumentará a expectativa de que
ouviremos mais vozes na próxima vez que escutarmos tais fitas.
Como desiludir o crente
Como pode alguém que ouviu as vozes ser persuadido a ser mais
crítico e examinar possibilidades mais mundanas?
Uma discussão racional, ponderada, é raramente útil porque evidência
clara ou lógica não está envolvida. Os crentes relatam uma
experiência que foi altamente significativa e talvez altamente
emocional para eles – não algo que é facilmente contestado pela
lógica. Além disso, existe uma auto-seleção de gente predisposta a
acreditar – as vozes são compatíveis com o seu sistema de crenças.
Lembre-se – nós processamos informação em dois diferentes modos,
através de duas partes do nosso cérebro e sistema nervoso mais ou
menos separadas. De um lado, parte do nosso cérebro trabalha num
nível muito intuitivo / emocional / automático, e por outro lado, a
outra parte do nosso cérebro trabalha de acordo com a lógica e
racionalidade que desenvolvemos ao longo de nossas vidas. Esses dois
sistemas produzem freqüentemente resultados contrários, e isto
especialmente acontece quando fenômenos paranormais estão envolvidos.
O “crente” remove a contradição alinhando o intelecto com a
interpretação intuitiva, isto é, vindo a aceitar o paranormal –
neste caso, as vozes – como realidade e desse modo remodelando o
entendimento intelectual do mundo de tal modo que a crença em tais
fenômenos pareça ser racional. Com o tempo, desenvolve-se um sistema
de crenças impenetrável que é suportado por uma base de experiência
pessoal muito substancial (interpretada de tal maneira a suportar a
crença paranormal), assim como evidência anedótica fornecida por
outros.
É muito difícil mudar tais crenças profundamente arraigadas,
especialmente se elas incluem um componente emocional significativo.
Considere este exemplo: em meu trabalho como psicólogo clínico, um
pai queria que eu “curasse” seu filho gay. Eu perguntei-lhe até que
ponto seria fácil para mim transformá-lo (o pai) numa pessoa gay?
“De jeito nenhum!!!,” disse ele. Eu lhe disse que eu provavelmente
teria o mesmo grau de dificuldade para transformar seu filho em
heterossexual como teria de fazê-lo, o pai, virar gay. Felizmente
ele compreendeu e passou a aceitar seu filho do jeito que ele era.
Meu argumento é este: quando perguntamos como transformar crentes em
céticos, vamos em vez disso perguntar: “Quão fácil seria para mim
persuadir você de que vozes numa fita são realmente espíritos dos
mortos?” Bem, isso é provavelmente tão fácil quanto seria persuadir
crentes devotos de que suas crenças acerca das vozes estão erradas.
O que as vozes Raudive nos ensinam é que pessoas inteligentes – pois
Raudive era sem dúvida um homem inteligente – podem vir a acreditar
fervorosamente em fenômenos que com toda a probabilidade não
existem. Há nisto uma lição para todos nós, pois certamente
poderíamos estar enganados em algumas das nossas convicções
profundamente arraigadas. É por isso que devemos confiar na ciência
como o caminho para a verdade, e não em experiência pessoal e
relatos anedóticos de outras pessoas. A ciência, com sua dependência
de dados e sua insistência na procura de fontes de erro e
explicações alternativas, provê o melhor método que os humanos
produziram para proteção contra erro e auto-ilusão. Os fenômenos de
TCI são produtos da esperança e suposição; as histórias encolhem sob
a luz do escrutínio científico.
|
COMENTÁRIOS:
paraciencia@hotmail.com
|
|