O chamado
Santo Sudário, que muitos acreditam ser a mortalha de Jesus, é
uma peça de linho com 4,20 metros de comprimento tendo na frente
e no dorso marcas de um homem aparentemente crucificado.
Houve muitas
supostas mortalhas de Cristo - cerca de quarenta em uma contagem
- entre a proliferação de "relíquias" de Jesus. Tais relíquias
incluem seus cueiros, seu prepúcio (preservado em nada menos que
seis igrejas), fragmentos da Verdadeira Cruz (o suficiente,
alguns disseram, para construir um navio), a coroa de espinhos e
a lança que perfurou o seu lado (cada uma das relíquias
existindo em várias versões "genuínas") - até mesmo ampolas com
seu sangue, suas lágrimas, e leite de sua mãe. Um dos Santos
Sudários – o Sudário de Compiegne com 2,40 metros que surgiu em
677 - foi venerado por nove séculos, antes de ser destruído
durante a Revolução Francesa. Outro, o Sudário de Cadouin, foi
eventualmente mostrado ser de origem muçulmana do século XI. As
impressões sobre o Sudário de Turim, no entanto, tornam-no único
entre os alegados panos de sepultamento de Cristo. Ainda que as
marcas não tenham as distorções de enrolamento que se esperam de
uma figura enrolada em panos - um fato que os céticos citam
contra sua autenticidade – os defensores do sudário acreditam
que a imagem dupla é um milagre.
A
trama do sudário de Turim é uma sarja um-por-três
em armadura espinha de peixe. Isto é suspeito em si mesmo, já
que a maioria dos panos de linho do tempo de Jesus – sejam
Romanos, Palestinos ou Egípcios – eram de trama simples. De
acordo com o reverendo David Sox (o ex-secretário da Sociedade
Britânica para o Sudário de Turim, que renunciou quando as
evidências finalmente convenceram-no que o sudário era uma
falsificação): "O problema com a trama é que, até hoje,
arqueologicamente falando, não há exemplos do tipo de urdidura
que temos no Sudário ... em qualquer tipo de artefato anterior
ao final da Idade Média, exceto por uma ou duas
variações dessa
trama." Ele acrescenta: "Todos
os panos de linho egípcios são diferentes
Todos os panos de
linho palestinos remanescentes, incluindo os invólucros de
Manuscritos do Mar Morto, são de trama simples - bem diferente
da do Sudário". Sox também aponta a improbabilidade de um grande
pedaço de linho permanecer em condições tão boas por dois mil
anos (Sox 1981, 31) De fato, todos os danos aparentes causados
ao sudário ocorreram durante os relativamente poucos séculos de
sua conhecida existência.
Não há, de
fato, nenhum registro histórico para o sudário antes de meados
do século XIV. Naquela época, o sudário apareceu em Lirey, no
centro-norte da França, um presente de um cavaleiro chamado
Geoffrey de Charny ao pároco da igreja de Lirey, no entanto, de
acordo com um relatório posterior do bispo, o "manto" era uma
fraude, utilizado para efetuar "pretensos milagres" em certas
pessoas que foram contratadas para fingir doença. Isso aconteceu
para que "dinheiro pudesse ser engenhosamente extorquido" de
peregrinos desavisados. O relatório, datado de 1389, e escrito
pelo bispo Pierre d'Arcis ao papa Clemente VII (o papa de
Avignon), descreve uma investigação feita por um bispo anterior:
"Eventualmente, após diligente investigação e análise, ele
descobriu a fraude e como o dito pano tinha sido astuciosamente
pintado, sendo a verdade atestada pelo artista que o havia
pintado, isto é, que era uma obra da habilidade humana e não
milagrosamente causado ou feito "(itálico acrescentado para
ênfase). Como resultado, D 'Arcis afirmou, o bispo anterior
entrou em ação:
"Assim,
depois de tomar teólogos conselheiros maduros e homens da lei,
vendo que ele não deveria nem poderia permitir que o assunto
fosse em frente, ele começou a instituir procedimentos formais
contra o dito pároco e seus cúmplices, a fim de erradicar essa
falsa influência. Eles, ao ver sua maldade descoberta,
esconderam o dito sudário de modo que o Bispo não pudesse
encontrá-lo, e eles o mantiveram escondido durante 34 anos, mais
ou menos, até o presente ano.”
Agora, neste
ano (1389) o sudário ressurgiu e está novamente sendo exibido
falsamente. Como D'Arcis prossegue: "Eu me ofereço aqui pronto
para fornecer toda as informações suficientes para remover
qualquer dúvida sobre os fatos alegados, tanto do relatório
público ou de outra forma." Em contraste, os proprietários do
Sudário, a família Charny, não conseguram explicar como
adquiriram a posse do pano.
Em 1390, após
uma audiência privada sobre a controvérsia, o Papa Clemente VII
declarou que o sudário “não era o Verdadeiro Sudário de Nosso
Senhor, mas uma pintura ou imagem feita na aparência de
representação do sudário" (Humber 1978, 100 ). Eventualmente, no
entanto, a neta de Charny, Margaret, fugiu com o sudário,
levando-o em turnê e apresentando-o falsamente como verdadeiro,
repetidas vezes. Em 1453 Margaret "deu" o sudário para o Duque e
a Duquesa de Saboia - em troca de um castelo e uma propriedade.
Margaret morreu sete anos depois, sob pena de excomunhão.
Os Saboia
trataram o pano como o verdadeiro sudário, levando-o com eles em
suas viagens por causa de seus poderes de proteção supostamente
divinos. Na verdade, o sudário nem conseguiu se proteger a si
mesmo, sendo quase destruído em um incêndio numa capela em 1532.
Isso resultou em marcas de queimadura e manchas que desfiguraram
a "relíquia" e levaram a rumores (que ainda persistem) de que o
sudário foi realmente destruído e foi secretamente substituído
por uma réplica. Em 1578, como parte de um movimento político
astuto para transferir a capital de Savoy - o sudário foi levado
para Turim, na Itália, e no final do século seguinte, ele foi
colocado em seu santuário atual na Catedral de São João Batista
em Turim.
A história
moderna do Sudário começou em 1898, quando a imagem foi
fotografada pela primeira vez. O negativo em placa de vidro
revelou uma imagem muito mais realista e descobriu-se que os
claros e escuros eram aproximadamente invertidos -
muito mais parecidos com as luzes e sombras de uma impressão
fotográfica positiva. Os partidários do Sudário, em
consequência, sugeriram que a imagem no pano é em si mesma um
negativo "fotográfico" perfeito. Como mecanismo para a formação
da imagem, eles propuseram a “teoria do vapor” (um processo
teórico pelo qual os vapores de amoníaco do suor do corpo
supostamente interagiram com o aloés e mirra utilizados no
sepultamento para produzir no pano uma "foto" a vapor) e, mais
recentemente, "fotólise-relâmpago" (uma explosão de energia
radiante imaginária no momento da ressurreição de Cristo, que
supostamente queimou a imagem no pano de linho). Ambas as
hipóteses foram refutadas, no entanto. As experiências mostram
que os vapores realmente se difundem e misturam, produzindo
apenas um borrão. De qualquer maneira, as radiações iriam
requerer um mecanismo para a focalização da imagem. Do mesmo
modo, tanto a radiação como os vapores iriam penetrar no pano,
ao passo que a imagem do sudário é inteiramente superficial.
Na verdade, a
analogia com fotografia é enganosa. A imagem, na verdade, é
apenas parcialmente negativa, uma vez que o cabelo e a barba são
brancos em vez de escuros no "positivo" foto-invertido, e o
sudário pelo contrário não tem propriedades fotográficas. Por
outro lado, surpreendentemente, imagens semelhantes
quase-negativas são facilmente produzidas por métodos artísticos
simples: por exemplo, uma técnica de fricção usando uma
escultura em baixo-relevo (Nickell 1988, 95-106).
Que o rosto
no Sudário se assemelha ao retrato tradicional de Jesus é outro
fator na controvérsia. Para explicar isso, e tentar fornecer uma
procedência para o pano, o defensor do sudário Ian Wilson
equipara a mortalha com a Imagem de Edessa do quarto século.
Desde que essa era uma imagem só de rosto (supostamente
produzida pelo Cristo vivo, que pressionou seu rosto no pano),
Wilson opina que o sudário foi dobrado de modo que apenas
mostrava o rosto. Ele acredita que a verdadeira identidade do
pano como um sudário não foi descoberta até séculos mais tarde.
Os céticos, no entanto, observam que o postulado de dobradura,
enquadramento, e exposição à luz durante centenas de anos teria
produzido uma área retangular de tecido amarelado que não existe
de fato. E citar a semelhança do rosto na mortalha com retratos
antigos de Jesus é um exemplo da proverbial colocação do carro
na frente dos bois: É muito mais provável (dado o
desconhecimento da procedência do pano antes do século XIV) que
um artista medieval simplesmente copiou a tradicional semelhança
de Jesus conforme ela evoluiu.
Patologistas
pró-Sudário, no entanto, rebatem alegando um alto grau de
precisão da anatomia da imagem com os detalhes de evidente
flagelação e crucificação. Por exemplo, eles afirmam que as
marcas do flagrum
(açoite ou chicote) representam um detalhe que um falsificador
medieval não poderia saber. No entanto, uma seita de fanáticos
conhecidos como Flagelantes estava ativa nos meados do século
XIV e pinturas desse período retratam claramente o
flagrum. Mais uma
vez, os defensores citam os "fluxos de sangue" dos "ferimentos
no couro cabeludo", que supostamente são evidências de uma coroa
de espinhos, como mencionado nos Evangelhos. Na verdade, em
contraste com a imagem da mortalha - que tem o sangue fluindo em
fluxos bem delineados fora das madeixas - o sangue de feridas
reais teria empastado o cabelo. Quanto à suposta precisão
anatômica, na verdade, o braço direito mais longo do que o
esquerdo; o cabelo caindo para baixo em ambos os lados do rosto,
como se de pé, em vez de decúbito; e a imagem de uma perna é
incompatível com uma pegada sangrenta no pano (esta última teria
exigido a perna estar sendo levantada em ângulo ao invés de
permanecer esticada). Especialistas de ambos os lados da
controvérsia do sudário concordam que o rosto e o corpo são
artificialmente finos e alongados – ao ponto de um patologista
do sudário, Frederick Zugibe, ter sugerido que Jesus sofria da
síndrome de Marfan (uma doença que pode causar tais alongamentos
e que alguns especulam Abraham Lincoln poderia ter tido). Na
verdade, essa representação é apenas típica da arte gótica
francesa no período medieval em que o artista confesso
floresceu!
A imagem do
Sudário apresenta muitas características adicionais que apontam
para um período medieval de origem. Um deles é o conceito de um
único pano que está sendo enrolado sob e sobre a figura,
enquanto os evangelhos mencionam vários panos com um "lenço"
separado colocado sobre o rosto (João 20:6-7). Depois, há a
própria figura, representada com as mãos cruzadas uma sobre a
outra e cobrindo as partes íntimas. Como o reverendo Sox
observa, isto "parece suspeito como uma concessão à pudicícia
medieval. Em práticas funerárias judaicas, as mãos estão sempre
cruzadas sobre o peito, deixando os órgãos genitais expostos."
(Sox 1981, 34)
Testes
científicos reais do sudário começaram em segredo em 1969 e
culminaram com testes de datação por carbono radioativo em 1988.
Importante ressaltar que houve testes do suposto sangue que
tinham sido por muito tempo foco de ceticismo considerável. Os
fluxos de sangue eram suspeitamente "fotográficos" e
permaneceram vermelhos – ao contrário de sangue genuíno que
escurece com a idade. Além disso, não havia a menor
possibilidade de que sangue seco, como o dos braços, pudesse ter
se transferido para o pano. Conduzidos por uma comissão outrora
secreta, os testes forenses do sangue foram consistentemente
negativos. Exames microscópicos não conseguiram detectar
glóbulos ou quaisquer outros componentes identificáveis do
sangue. Além disso, foi realizada uma bateria de análises
químicas de dez fios de tecido manchados de “sangue”, também com
resultados negativos, não só quanto à espécie e os grupos
sanguíneos, mas mesmo quanto à hemoglobina e outras substâncias
relacionadas com a presença de sangue. Testes sofisticados
posteriores incluiram a análise microespectroscópica,
cromatografia em camada delgada e análise por ativação de
neutrons. Outra e outra vez, os testes foram negativos para a
presença de sangue genuíno. Um membro da comissão detectou
vestígios de uma cor vermelha que ele concluiu "certamente deve
ter sido acrescentada mais tarde e deliberadamente." Os exames
microscópicos revelaram grânulos suspeitos de cor
amarelo-avermelhada para laranja que nem mesmo se dissolviam em
soluções químicas que dissolvem sangue.
Eventualmente
Walter McCrone - geralmente considerado como o mais importante
microanalista do mundo - identificou os grânulos avermelhados
como pigmentos de tintas. Na imagem, mas não nas áreas de fundo,
o Dr. McCrone descobriu quantidades significativas de óxido de
ferro vermelho, pigmento conhecido por artistas como ocre
vermelho. No "sangue", McCrone detectou a presença de vermelhão,
um pigmento de sulfeto de mercúrio, e confirmou a identificação
microscópica com um teste microquímico que comprovou a presença
de mercúrio. McCrone também descobriu vestígios de ainda outro
pigmento, um corante das raízes de uma erva da Eurásia. "Acho
então", disse ele que “há três pigmentos vermelhos diferentes
usados, com predominância de óxido de ferro, mas com
quantidades significativas de vermelhão e traços, pelo menos, de
garança rosa. " McCrone descobriu que a garança rosa parecia ter
sido aplicada separadamente, consistente com o fato de que tais
cores de laca vermelha terem sido especificamente usadas por
artistas medievais para repintar vermelhão para representar
“sangue". Além disso, McCrone observou que, nas áreas de
"sangue", as partículas de pigmento pareciam ter sido agregadas
por um ligante orgânico que ele depois identificou como têmpera
de colágeno (gelatina). Pelos meus esforços, diz McCrone, fui
"expulso" do Pro-authenticity Shroud of Turin Research Project
(STURP).
O projeto
STURP pegou as amostras de McCrone e deu-as a dois cientistas
obscuros - John Heller e Alan Adler – nenhum dos quais era
especialista em pigmentos ou serologista forense, o que levou um
deles a questionar o porquê de eles terem sido selecionados para
tão importante trabalho. Heller admitiu que McCrone "tinha mais
de duas décadas de experiência com este tipo de problema e uma
reputação mundial. Adler e eu, por outro lado, nunca tínhamos
enfrentado algo remotamente parecido com uma falsificação
artística" (Heller 1983, 168). No entanto, os dois homens logo
alegaram ter "identificado a presença de sangue." Na verdade, o
analista forense John F. Fischer explicou numa conferência
forense de 1983 por que os dados espectrais eram inconsistentes
com as alegações dos cientistas do STURP, e ele mostrou que os
métodos deles não só eram sem fundamento em termos forenses -
nem um único método dos testes de Heller e Adler era específico
para sangue - mas que
resultados semelhantes aos deles poderiam ser obtidos com tinta
têmpera!
Cientistas
do STURP fizeram
reivindicações adicionais. Por exemplo, John Jackson e Eric
Jumper aplicaram um "teste" analisador de imagem para a imagem
do sudário - uma análise de sua própria autoria, envolvendo o
uso de um instrumento que foi na verdade destinado a analisar
fotografias de planetas. Jackson e Jumper afirmaram que a imagem
do Sudário tinha propriedades tridimensionais únicas que as
fotografias e pinturas "comuns" não possuem. Na verdade, porém,
o perfil 3-D da imagem do sudário, como revelado em uma plotagem
por microdensitômetro de seus claros e escuros de uma
foto-transparência, é grotesco, com o queixo projetando-se
vários centímetros em relação às outras características faciais.
Somente através do emprego de uma série de fatores
"corretivos" questionáveis foram os defensores do sudário
capazes de obter seus resultados visualmente agradáveis. Além
disso, enquanto a imagem do Sudário tem mais de seis séculos de
idade e esmaeceu ao longo do tempo - tendo assim bordas
suavizadas que favorecem a reconstrução 3-D - as imagens
utilizadas para comparação por sua vez eram novas. Na verdade,
em alguns casos, esta últimas foram tiradas a partir de imagens
reproduzidas com contraste acentuado e impressas em revistas.
Por outro lado, as fotografias do Sudário parece sempre ter sido
cuidadosamente selecionadas para valores tonais ideais.
Entretanto, artistas tem produzido resultados tidos como
comparáveis aos do STURP derivados da imagem do sudário.
Ainda outros
elementos que supostamente ajudaram a "autenticar" o sudário
foram cunhagens renomadas de moedas romanas supostamente
colocadas sobre os olhos do "Homem do Sudário" e a alegada
descoberta de polens palestinos no pano. Os cientistas que
fizeram um estudo da alegação das moedas-sobre-os-olhos e
examinaram as fotografias sob ampliação concluíram que o padrão
de tecelagem ampliado do pano agiu mais como um teste Rorshach,
permitindo que se veja justamente o que se quer ver. Os polens -
alegadamente descobertos pelo criminologista suíço Max Frei –
representaram uma reivindicação mais importante, que
supostamente colocaram o pano, em algum momento de sua história,
na Terra Santa. Infelizmente, críticas ao estudo do pólen vieram
de vários setores. Um problema era a possibilidade de
contaminação, um outro (como um botânico do Smithsonian
observou) é que a identificação de pólen não é feita para
espécies (como Frei alegou fazer) exceto em casos raros. Pior,
as supostas descobertas de Frei estavam em desacordo com as do
STURP, que descobriu um número relativamente pequeno de grãos de
pólen nas amostras em fita adesiva que tiraram no pano. De fato,
o Dr. McCrone pediu para examinar as amostras de Frei após sua
morte em 1983, concluindo que os polens provavelmente tinham
sido adicionado às fitas por "desonestidade" (Nickell, 1994).
As
descobertas científicas mais devastadores foram os testes de
radiocarbono. Utilizando espectrometria de massas com
acelerador, laboratórios em Oxford, Zurique e Universidade do
Arizona determinaram que o linho com o qual o pano
foi tecido foi colhido em torno da metade do século XIV,
coincidindo com a época da confissão do falsificador. A faixa da
datação ia de 1260 a 1390, e foi-lhe acrescentada mais
credibilidade com datas corretas obtidas a partir de uma
variedade de amostras de controle (ou seja, amostras têxteis
antigas de idade conhecida, incluindo pano da múmia de
Cleópatra). Entusiastas pró Sudário tentaram contestar as
conclusões por vários motivos, mas suas críticas não tinham
mérito, sendo refutadas em um artigo na revista francesa
Science & Vie. Por
exemplo, alguns especularam que o fogo de 1532 poderia ter
contaminado as amostras de carbono; de fato, as amostras foram
tomadas bem longe das marcas de queimadura e foram purificadas
antes de serem testadas (Nickell 1991).
A diferença
de resultados entre os defensores da autenticidade e
investigadores céticos parece ser de orientação básica para a
evidência. Os Céticos admitiram a preponderância da evidência de
prima-facie - a falta de registro histórico antes de
meados do século XIV, o relato da confissão do falsificador, a
presença de tinta, a datação por radiocarbono -
para levá-los a uma conclusão: o sudário é o trabalho de um
artesão medieval. Na verdade, as várias peças do quebra-cabeças
se sobrepõem e corroboraram umas às outras. Em nítido contraste
está a abordagem de entusiastas do sudário que parecem começar
com a resposta desejada e em seguida caminhando para trás até às
evidências. Sem qualquer hipótese viável de como a imagem foi
formada, eles oferecem uma "teoria" para a falta de proveniência
(o sudário pode ter sido escondido por um tempo), outra para a
confissão (o bispo relator poderia ter sido desonesto), ainda
uma outra para a pintura (artistas copiando o sudário podem ter
salpicado tinta no pano), e assim por diante. Prova do seu viés
tem sido evidente há tempo. Meses antes de terem realizado um
único teste no pano, os cientistas do STURP já se apressavam no
julgamento. Um deles disse: "Eu sou forçado a concluir que a
imagem foi formada por uma explosão de energia radiante – luz,
se você quiser. Eu acho que não há dúvida sobre isso." Outro
afirmou, "Eu pessoalmente acredito que é o sudário de Cristo, e
eu acredito que isto é apoiado pela evidência científica por
enquanto." Um outro exemplo veio de um cientista da Força Aérea,
Eric Jumper, que era um líder do STURP e membro do Conselho
Executivo da Confraria Pró-Autenticidade do Santo Sudário.
Depois de apenas um exame preliminar no sudário feito em 1978,
Jumper afirmou: "Não há nenhuma dúvida sobre isso - é um pano
mortuário!" No ano seguinte o ultraconservador Phyllis Schlafly
anunciou: "Finalmente temos a prova exigida pelos Tomáses
duvidosos. Esta prova é o Sudário em que o corpo de Jesus foi
envolvido."
Pronunciamentos mais recentes sobre o Sudário vem de um par de
céticos improváveis, Lynn Picknett e Clive Prince, ambos
ex-membros da Sociedade Britânica para o Sudário de Turim. Tendo
anteriormente acreditado que o sudário era autêntico, agora eles
admitem que é uma farsa, mas ressuscitam a noção de que ele foi
substituído quando o "original" foi destruído no incêndio de
1532. Em seu livro
Sudário de Turim eles opinam que o presente sudário é obra
do próprio Leonardo Da Vinci. Ainda que essa não seja uma noção
original, os autores tentam deduzir o método de criação de
imagem utilizado pelo mestre, que eles acreditam focaliza (por
assim dizer) no dispositivo pré-fotográfico, a camera
obscura. Infelizmente, como a maior parte de seu livro,
este cenário é totalmente carente de provas.
BIBLIOGRAFIA
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translation in an appendix in Wilson 1979, 266-72.
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Houghton Mifflin, 1983.
Humber, Thomas. The Sacred Shroud. New York: Pocket
Books, 1978.
McCrone, Walter C. "Light Microscopical Study of the Turin
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I-III"
The Microscope 28 (1980-81): 105-13, 115-28; 29: 19-38.
Nickell, Joe. Inquest on the Shroud of Turin. 2nd
updated ed. Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1988. (Except as
otherwise noted, information is taken from this source and from
Nickell 1989.)
Nickell, Joe. "Unshrouding
a Mystery: Science, Pseudoscience, and the Cloth of Turin."
Skeptical Inquirer
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Nickell, Joe. "Pollens
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18, no. 4 (Summer 1994): 85.
Picknett, Lynn, and Clive Prince. Turin Shroud.
New York: Harper Collins, 1994.
Sox, David. Interview by David F. Brown in Realities 4
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Wilson, Ian. The Shroud of Turin. Rev. ed. Garden City,
N.Y.: Image Books, 1979.