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O Sudário de Turim

                                                     Joe Nickell

Joe Nickell, Ph.D., é Membro Pesquisador Sênior do "Committee for Skeptical Inquiry (CSI)" e colunista dos "Investigative Files" do Skeptical Inquirer. Um ex-mágico de palco, investigador privado e professor, ele é autor de inúmeros livros. Já apareceu em vários documentários na televisão e foi entrevistado no The New Yorker e no Today Show da NBC.  

O chamado Santo Sudário, que muitos acreditam ser a mortalha de Jesus, é uma peça de linho com 4,20 metros de comprimento tendo na frente e no dorso marcas de um homem aparentemente crucificado.

Houve muitas supostas mortalhas de Cristo - cerca de quarenta em uma contagem - entre a proliferação de "relíquias" de Jesus. Tais relíquias incluem seus cueiros, seu prepúcio (preservado em nada menos que seis igrejas), fragmentos da Verdadeira Cruz (o suficiente, alguns disseram, para construir um navio), a coroa de espinhos e a lança que perfurou o seu lado (cada uma das relíquias existindo em várias versões "genuínas") - até mesmo ampolas com seu sangue, suas lágrimas, e leite de sua mãe. Um dos Santos Sudários – o Sudário de Compiegne com 2,40 metros que surgiu em 677 - foi venerado por nove séculos, antes de ser destruído durante a Revolução Francesa. Outro, o Sudário de Cadouin, foi eventualmente mostrado ser de origem muçulmana do século XI. As impressões sobre o Sudário de Turim, no entanto, tornam-no único entre os alegados panos de sepultamento de Cristo. Ainda que as marcas não tenham as distorções de enrolamento que se esperam de uma figura enrolada em panos - um fato que os céticos citam contra sua autenticidade – os defensores do sudário acreditam que a imagem dupla é um milagre.

 A trama do sudário de Turim é uma sarja um-por-três em armadura espinha de peixe. Isto é suspeito em si mesmo, já que a maioria dos panos de linho do tempo de Jesus – sejam Romanos, Palestinos ou Egípcios – eram de trama simples. De acordo com o reverendo David Sox (o ex-secretário da Sociedade Britânica para o Sudário de Turim, que renunciou quando as evidências finalmente convenceram-no que o sudário era uma falsificação): "O problema com a trama é que, até hoje, arqueologicamente falando, não há exemplos do tipo de urdidura que temos no Sudário ... em qualquer tipo de artefato anterior ao final da Idade Média, exceto por uma ou duas variações dessa trama." Ele acrescenta: "Todos os panos de linho egípcios são diferentes Todos os panos de linho palestinos remanescentes, incluindo os invólucros de Manuscritos do Mar Morto, são de trama simples - bem diferente da do Sudário". Sox também aponta a improbabilidade de um grande pedaço de linho permanecer em condições tão boas por dois mil anos (Sox 1981, 31) De fato, todos os danos aparentes causados ao sudário ocorreram durante os relativamente poucos séculos de sua conhecida existência.

Não há, de fato, nenhum registro histórico para o sudário antes de meados do século XIV. Naquela época, o sudário apareceu em Lirey, no centro-norte da França, um presente de um cavaleiro chamado Geoffrey de Charny ao pároco da igreja de Lirey, no entanto, de acordo com um relatório posterior do bispo, o "manto" era uma fraude, utilizado para efetuar "pretensos milagres" em certas pessoas que foram contratadas para fingir doença. Isso aconteceu para que "dinheiro pudesse ser engenhosamente extorquido" de peregrinos desavisados. O relatório, datado de 1389, e escrito pelo bispo Pierre d'Arcis ao papa Clemente VII (o papa de Avignon), descreve uma investigação feita por um bispo anterior: "Eventualmente, após diligente investigação e análise, ele descobriu a fraude e como o dito pano tinha sido astuciosamente pintado, sendo a verdade atestada pelo artista que o havia pintado, isto é, que era uma obra da habilidade humana e não milagrosamente causado ou feito "(itálico acrescentado para ênfase). Como resultado, D 'Arcis afirmou, o bispo anterior entrou em ação:

"Assim, depois de tomar teólogos conselheiros maduros e homens da lei, vendo que ele não deveria nem poderia permitir que o assunto fosse em frente, ele começou a instituir procedimentos formais contra o dito pároco e seus cúmplices, a fim de erradicar essa falsa influência. Eles, ao ver sua maldade descoberta, esconderam o dito sudário de modo que o Bispo não pudesse encontrá-lo, e eles o mantiveram escondido durante 34 anos, mais ou menos, até o presente ano.”

Agora, neste ano (1389) o sudário ressurgiu e está novamente sendo exibido falsamente. Como D'Arcis prossegue: "Eu me ofereço aqui pronto para fornecer toda as informações suficientes para remover qualquer dúvida sobre os fatos alegados, tanto do relatório público ou de outra forma." Em contraste, os proprietários do Sudário, a família Charny, não conseguram explicar como adquiriram a posse do pano.

Em 1390, após uma audiência privada sobre a controvérsia, o Papa Clemente VII declarou que o sudário “não era o Verdadeiro Sudário de Nosso Senhor, mas uma pintura ou imagem feita na aparência de representação do sudário" (Humber 1978, 100 ). Eventualmente, no entanto, a neta de Charny, Margaret, fugiu com o sudário, levando-o em turnê e apresentando-o falsamente como verdadeiro, repetidas vezes. Em 1453 Margaret "deu" o sudário para o Duque e a Duquesa de Saboia - em troca de um castelo e uma propriedade. Margaret morreu sete anos depois, sob pena de excomunhão.

Os Saboia trataram o pano como o verdadeiro sudário, levando-o com eles em suas viagens por causa de seus poderes de proteção supostamente divinos. Na verdade, o sudário nem conseguiu se proteger a si mesmo, sendo quase destruído em um incêndio numa capela em 1532. Isso resultou em marcas de queimadura e manchas que desfiguraram a "relíquia" e levaram a rumores (que ainda persistem) de que o sudário foi realmente destruído e foi secretamente substituído por uma réplica. Em 1578, como parte de um movimento político astuto para transferir a capital de Savoy - o sudário foi levado para Turim, na Itália, e no final do século seguinte, ele foi colocado em seu santuário atual na Catedral de São João Batista em Turim.

A história moderna do Sudário começou em 1898, quando a imagem foi fotografada pela primeira vez. O negativo em placa de vidro revelou uma imagem muito mais realista e descobriu-se que os claros e escuros eram aproximadamente invertidos - muito mais parecidos com as luzes e sombras de uma impressão fotográfica positiva. Os partidários do Sudário, em consequência, sugeriram que a imagem no pano é em si mesma um negativo "fotográfico" perfeito. Como mecanismo para a formação da imagem, eles propuseram a “teoria do vapor” (um processo teórico pelo qual os vapores de amoníaco do suor do corpo supostamente interagiram com o aloés e mirra utilizados no sepultamento para produzir no pano uma "foto" a vapor) e, mais recentemente, "fotólise-relâmpago" (uma explosão de energia radiante imaginária no momento da ressurreição de Cristo, que supostamente queimou a imagem no pano de linho). Ambas as hipóteses foram refutadas, no entanto. As experiências mostram que os vapores realmente se difundem e misturam, produzindo apenas um borrão. De qualquer maneira, as radiações iriam requerer um mecanismo para a focalização da imagem. Do mesmo modo, tanto a radiação como os vapores iriam penetrar no pano, ao passo que a imagem do sudário é inteiramente superficial.

Na verdade, a analogia com fotografia é enganosa. A imagem, na verdade, é apenas parcialmente negativa, uma vez que o cabelo e a barba são brancos em vez de escuros no "positivo" foto-invertido, e o sudário pelo contrário não tem propriedades fotográficas. Por outro lado, surpreendentemente, imagens semelhantes quase-negativas são facilmente produzidas por métodos artísticos simples: por exemplo, uma técnica de fricção usando uma escultura em baixo-relevo (Nickell 1988, 95-106).

Que o rosto no Sudário se assemelha ao retrato tradicional de Jesus é outro fator na controvérsia. Para explicar isso, e tentar fornecer uma procedência para o pano, o defensor do sudário Ian Wilson equipara a mortalha com a Imagem de Edessa do quarto século. Desde que essa era uma imagem só de rosto (supostamente produzida pelo Cristo vivo, que pressionou seu rosto no pano), Wilson opina que o sudário foi dobrado de modo que apenas mostrava o rosto. Ele acredita que a verdadeira identidade do pano como um sudário não foi descoberta até séculos mais tarde. Os céticos, no entanto, observam que o postulado de dobradura, enquadramento, e exposição à luz durante centenas de anos teria produzido uma área retangular de tecido amarelado que não existe de fato. E citar a semelhança do rosto na mortalha com retratos antigos de Jesus é um exemplo da proverbial colocação do carro na frente dos bois: É muito mais provável (dado o desconhecimento da procedência do pano antes do século XIV) que um artista medieval simplesmente copiou a tradicional semelhança de Jesus conforme ela evoluiu.  

Patologistas pró-Sudário, no entanto, rebatem alegando um alto grau de precisão da anatomia da imagem com os detalhes de evidente flagelação e crucificação. Por exemplo, eles afirmam que as marcas do flagrum (açoite ou chicote) representam um detalhe que um falsificador medieval não poderia saber. No entanto, uma seita de fanáticos conhecidos como Flagelantes estava ativa nos meados do século XIV e pinturas desse período retratam claramente o flagrum. Mais uma vez, os defensores citam os "fluxos de sangue" dos "ferimentos no couro cabeludo", que supostamente são evidências de uma coroa de espinhos, como mencionado nos Evangelhos. Na verdade, em contraste com a imagem da mortalha - que tem o sangue fluindo em fluxos bem delineados fora das madeixas - o sangue de feridas reais teria empastado o cabelo. Quanto à suposta precisão anatômica, na verdade, o braço direito mais longo do que o esquerdo; o cabelo caindo para baixo em ambos os lados do rosto, como se de pé, em vez de decúbito; e a imagem de uma perna é incompatível com uma pegada sangrenta no pano (esta última teria exigido a perna estar sendo levantada em ângulo ao invés de permanecer esticada). Especialistas de ambos os lados da controvérsia do sudário concordam que o rosto e o corpo são artificialmente finos e alongados – ao ponto de um patologista do sudário, Frederick Zugibe, ter sugerido que Jesus sofria da síndrome de Marfan (uma doença que pode causar tais alongamentos e que alguns especulam Abraham Lincoln poderia ter tido). Na verdade, essa representação é apenas típica da arte gótica francesa no período medieval em que o artista confesso floresceu!

A imagem do Sudário apresenta muitas características adicionais que apontam para um período medieval de origem. Um deles é o conceito de um único pano que está sendo enrolado sob e sobre a figura, enquanto os evangelhos mencionam vários panos com um "lenço" separado colocado sobre o rosto (João 20:6-7). Depois, há a própria figura, representada com as mãos cruzadas uma sobre a outra e cobrindo as partes íntimas. Como o reverendo Sox observa, isto "parece suspeito como uma concessão à pudicícia medieval. Em práticas funerárias judaicas, as mãos estão sempre cruzadas sobre o peito, deixando os órgãos genitais expostos." (Sox 1981, 34)

Testes científicos reais do sudário começaram em segredo em 1969 e culminaram com testes de datação por carbono radioativo em 1988. Importante ressaltar que houve testes do suposto sangue que tinham sido por muito tempo foco de ceticismo considerável. Os fluxos de sangue eram suspeitamente "fotográficos" e permaneceram vermelhos – ao contrário de sangue genuíno que escurece com a idade. Além disso, não havia a menor possibilidade de que sangue seco, como o dos braços, pudesse ter se transferido para o pano. Conduzidos por uma comissão outrora secreta, os testes forenses do sangue foram consistentemente negativos. Exames microscópicos não conseguiram detectar glóbulos ou quaisquer outros componentes identificáveis do sangue. Além disso, foi realizada uma bateria de análises químicas de dez fios de tecido manchados de “sangue”, também com resultados negativos, não só quanto à espécie e os grupos sanguíneos, mas mesmo quanto à hemoglobina e outras substâncias relacionadas com a presença de sangue. Testes sofisticados posteriores incluiram a análise microespectroscópica, cromatografia em camada delgada e análise por ativação de neutrons. Outra e outra vez, os testes foram negativos para a presença de sangue genuíno. Um membro da comissão detectou vestígios de uma cor vermelha que ele concluiu "certamente deve ter sido acrescentada mais tarde e deliberadamente." Os exames microscópicos revelaram grânulos suspeitos de cor amarelo-avermelhada para laranja que nem mesmo se dissolviam em soluções químicas que dissolvem sangue.

Eventualmente Walter McCrone - geralmente considerado como o mais importante microanalista do mundo - identificou os grânulos avermelhados como pigmentos de tintas. Na imagem, mas não nas áreas de fundo, o Dr. McCrone descobriu quantidades significativas de óxido de ferro vermelho, pigmento conhecido por artistas como ocre vermelho. No "sangue", McCrone detectou a presença de vermelhão, um pigmento de sulfeto de mercúrio, e confirmou a identificação microscópica com um teste microquímico que comprovou a presença de mercúrio. McCrone também descobriu vestígios de ainda outro pigmento, um corante das raízes de uma erva da Eurásia. "Acho então", disse ele que “há três pigmentos vermelhos diferentes usados​​, com predominância de óxido de ferro, mas com quantidades significativas de vermelhão e traços, pelo menos, de garança rosa. " McCrone descobriu que a garança rosa parecia ter sido aplicada separadamente, consistente com o fato de que tais cores de laca vermelha terem sido especificamente usadas por artistas medievais para repintar vermelhão para representar “sangue". Além disso, McCrone observou que, nas áreas de "sangue", as partículas de pigmento pareciam ter sido agregadas por um ligante orgânico que ele depois identificou como têmpera de colágeno (gelatina). Pelos meus esforços, diz McCrone, fui "expulso" do Pro-authenticity Shroud of Turin Research Project (STURP).

O projeto STURP pegou as amostras de McCrone e deu-as a dois cientistas obscuros - John Heller e Alan Adler – nenhum dos quais era especialista em pigmentos ou serologista forense, o que levou um deles a questionar o porquê de eles terem sido selecionados para tão importante trabalho. Heller admitiu que McCrone "tinha mais de duas décadas de experiência com este tipo de problema e uma reputação mundial. Adler e eu, por outro lado, nunca tínhamos enfrentado algo remotamente parecido com uma falsificação artística" (Heller 1983, 168). No entanto, os dois homens logo alegaram ter "identificado a presença de sangue." Na verdade, o analista forense John F. Fischer explicou numa conferência forense de 1983 por que os dados espectrais eram inconsistentes com as alegações dos cientistas do STURP, e ele mostrou que os métodos deles não só eram sem fundamento em termos forenses - nem um único método dos testes de Heller e Adler era específico para sangue - mas que resultados semelhantes aos deles poderiam ser obtidos com tinta têmpera!

Cientistas  do STURP fizeram reivindicações adicionais. Por exemplo, John Jackson e Eric Jumper aplicaram um "teste" analisador de imagem para a imagem do sudário - uma análise de sua própria autoria, envolvendo o uso de um instrumento que foi na verdade destinado a analisar fotografias de planetas. Jackson e Jumper afirmaram que a imagem do Sudário tinha propriedades tridimensionais únicas que as fotografias e pinturas "comuns" não possuem. Na verdade, porém, o perfil 3-D da imagem do sudário, como revelado em uma plotagem por microdensitômetro de seus claros e escuros de uma foto-transparência, é grotesco, com o queixo projetando-se vários centímetros em relação às outras características faciais. Somente através do emprego de uma série de fatores ​​"corretivos" questionáveis foram os defensores do sudário capazes de obter seus resultados visualmente agradáveis. Além disso, enquanto a imagem do Sudário tem mais de seis séculos de idade e esmaeceu ao longo do tempo - tendo assim bordas suavizadas que favorecem a reconstrução 3-D - as imagens utilizadas para comparação por sua vez eram novas. Na verdade, em alguns casos, esta últimas foram tiradas a partir de imagens reproduzidas com contraste acentuado e impressas em revistas. Por outro lado, as fotografias do Sudário parece sempre ter sido cuidadosamente selecionadas para valores tonais ideais. Entretanto, artistas tem produzido resultados tidos como comparáveis ​​aos do STURP derivados da imagem do sudário.

Ainda outros elementos que supostamente ajudaram a "autenticar" o sudário foram cunhagens renomadas de moedas romanas supostamente colocadas sobre os olhos do "Homem do Sudário" e a alegada descoberta de polens palestinos no pano. Os cientistas que fizeram um estudo da alegação das moedas-sobre-os-olhos e examinaram as fotografias sob ampliação concluíram que o padrão de tecelagem ampliado do pano agiu mais como um teste Rorshach, permitindo que se veja justamente o que se quer ver. Os polens - alegadamente descobertos pelo criminologista suíço Max Frei – representaram uma reivindicação mais importante, que supostamente colocaram o pano, em algum momento de sua história, na Terra Santa. Infelizmente, críticas ao estudo do pólen vieram de vários setores. Um problema era a possibilidade de contaminação, um outro (como um botânico do Smithsonian observou) é que a identificação de pólen não é feita para espécies (como Frei alegou fazer) exceto em casos raros. Pior, as supostas descobertas de Frei estavam em desacordo com as do STURP, que descobriu um número relativamente pequeno de grãos de pólen nas amostras em fita adesiva que tiraram no pano. De fato, o Dr. McCrone pediu para examinar as amostras de Frei após sua morte em 1983, concluindo que os polens provavelmente tinham sido adicionado às fitas por "desonestidade" (Nickell, 1994).

As descobertas científicas mais devastadores foram os testes de radiocarbono. Utilizando espectrometria de massas com acelerador, laboratórios em Oxford, Zurique e Universidade do Arizona determinaram que o linho com o qual o pano  foi tecido foi colhido em torno da metade do século XIV, coincidindo com a época da confissão do falsificador. A faixa da datação ia de 1260 a 1390, e foi-lhe acrescentada mais credibilidade com datas corretas obtidas a partir de uma variedade de amostras de controle (ou seja, amostras têxteis antigas de idade conhecida, incluindo pano da múmia de Cleópatra). Entusiastas pró Sudário tentaram contestar as conclusões por vários motivos, mas suas críticas não tinham mérito, sendo refutadas em um artigo na revista francesa Science & Vie. Por exemplo, alguns especularam que o fogo de 1532 poderia ter contaminado as amostras de carbono; de fato, as amostras foram tomadas bem longe das marcas de queimadura e foram purificadas antes de serem testadas (Nickell 1991).

A diferença de resultados entre os defensores da autenticidade e investigadores céticos parece ser de orientação básica para a evidência. Os Céticos admitiram a preponderância da evidência de prima-facie - a falta de registro histórico antes de meados do século XIV, o relato da confissão do falsificador, a presença de tinta, a datação por radiocarbono - para levá-los a uma conclusão: o sudário é o trabalho de um artesão medieval. Na verdade, as várias peças do quebra-cabeças se sobrepõem e corroboraram umas às outras. Em nítido contraste está a abordagem de entusiastas do sudário que parecem começar com a resposta desejada e em seguida caminhando para trás até às evidências. Sem qualquer hipótese viável de como a imagem foi formada, eles oferecem uma "teoria" para a falta de proveniência (o sudário pode ter sido escondido por um tempo), outra para a confissão (o bispo relator poderia ter sido desonesto), ainda uma outra para a pintura (artistas copiando o sudário podem ter salpicado tinta no pano), e assim por diante. Prova do seu viés tem sido evidente há tempo. Meses antes de terem realizado um único teste no pano, os cientistas do STURP já se apressavam no julgamento. Um deles disse: "Eu sou forçado a concluir que a imagem foi formada por uma explosão de energia radiante – luz, se você quiser. Eu acho que não há dúvida sobre isso." Outro afirmou, "Eu pessoalmente acredito que é o sudário de Cristo, e eu acredito que isto é apoiado pela evidência científica por enquanto." Um outro exemplo veio de um cientista da Força Aérea, Eric Jumper, que era um líder do STURP e membro do Conselho Executivo da Confraria Pró-Autenticidade do Santo Sudário. Depois de apenas um exame preliminar no sudário feito em 1978, Jumper afirmou: "Não há nenhuma dúvida sobre isso - é um pano mortuário!" No ano seguinte o ultraconservador Phyllis Schlafly anunciou: "Finalmente temos a prova exigida pelos Tomáses duvidosos. Esta prova é o Sudário em que o corpo de Jesus foi envolvido." 

Pronunciamentos mais recentes sobre o Sudário vem de um par de céticos improváveis, Lynn Picknett e Clive Prince, ambos ex-membros da Sociedade Britânica para o Sudário de Turim. Tendo anteriormente acreditado que o sudário era autêntico, agora eles admitem que é uma farsa, mas ressuscitam a noção de que ele foi substituído quando o "original" foi destruído no incêndio de 1532. Em seu livro Sudário de Turim eles opinam que o presente sudário é obra do próprio Leonardo Da Vinci. Ainda que essa não seja uma noção original, os autores tentam deduzir o método de criação de imagem utilizado pelo mestre, que eles acreditam focaliza (por assim dizer) no dispositivo pré-fotográfico, a camera obscura. Infelizmente, como a maior parte de seu livro, este cenário é totalmente carente de provas. 

 

BIBLIOGRAFIA

D'Arcis, Pierre. Report to Pope Clement VII. Cited in translation in an appendix in Wilson 1979, 266-72.

Heller, John. Report on the Shroud of Turin. York: Houghton Mifflin, 1983.

Humber, Thomas. The Sacred Shroud. New York: Pocket Books, 1978.

McCrone, Walter C. "Light Microscopical Study of the Turin 'Shroud,' I-III" The Microscope 28 (1980-81): 105-13, 115-28; 29: 19-38.

Nickell, Joe. Inquest on the Shroud of Turin. 2nd updated ed. Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1988. (Except as otherwise noted, information is taken from this source and from Nickell 1989.)

Nickell, Joe. "Unshrouding a Mystery: Science, Pseudoscience, and the Cloth of Turin." Skeptical Inquirer 13, no. 3 (Spring 1989): 296-99.

Nickell, Joe. "Les preuves scientifiques que le Linceul de Turin date du Moyen Age." Science & Vie (July 1991): 6-17.

Nickell, Joe. "Pollens on the 'Shroud': A Study in Deception." Skeptical Inquirer 18, no. 4 (Summer 1994): 85.

Picknett, Lynn, and Clive Prince. Turin Shroud. New York: Harper Collins, 1994.

Sox, David. Interview by David F. Brown in Realities 4 (1981): 1.

Wilson, Ian. The Shroud of Turin. Rev. ed. Garden City, N.Y.: Image Books, 1979.

 

Tradução do ensaio "The Shroud of Turin" publicado em "The Encyclopedia of the Paranormal", (páginas 679 a 684) editada por Prometheus Books
Copyright © 1996 by Gordon Stein


 


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