UOL Notícias - 28/10/2004 - 11h32
Cientistas britânicos relacionam auras a
fenômeno da sinestesia
Londres, 28 out (EFE) - A visão de halos ou auras em volta dos corpos
humanos, relacionada muitas vezes ao misticismo, pode ser causada por um
simples fenômeno da sinestesia ou mistura dos sentidos.
A hipótese
foi levantada por uma equipe de pesquisadores do University College de
Londres, dirigida pelo doutor Jamie Ward. O estudo foi publicado na revista
britânica "Cognitive Neuropsychology" e noticiado nesta quarta-feira pelo
jornal "The Daily Telegraph".
Tradicionalmente, a capacidade de ver
irradiações luminosas foi associada a poderes "extrasensoriais" que certas
pessoas afirmam possuir. Agora, os cientistas acham que há algo de verdade
nisso. Esse fenômeno não tem a ver com "campos de energia" nem com o mundo
dos espíritos, mas pode estar relacionado a uma confusão dos sentidos
humanos, fazendo com que algumas pessoas "vejam" sons, "escutem" cores ou
"saboreiem" formas.
As pessoas sinestésicas podem enxergar cores em
pessoas que conhecem ou como reação a palavras como "amor" ou "ódio". Essas
cores não refletem energias ocultas emitidas pelas pessoas, mas são criadas
inteiramente no cérebro da pessoa que vê a aura, segundo a conclusão dos
cientistas britânicos.
Em seu estudo, Ward descreve o caso de uma
jovem, identificada apenas pelas iniciais G.W., que via cores como azul e
violeta quando encontrava pessoas conhecidas, a ponto que bastava ouvir os
nomes delas para ter essa sensação.
Os nomes provocavam a aparição de
uma cor que cobria todo o campo de visão de G.W., e as tais pessoas pareciam
emanar uma aura colorida.
Por exemplo, a palavra "Jamie" era
imediatamente associada à cor rosa, "Thomas" ao preto, e "Hannah" ao azul.
Quando a jovem ia a uma festa e se divertia, todo o cenário se coloria de
vermelho, afirmam os cientistas. Segundo a pesquisa, certas palavras
carregadas emocionalmente como "medo" e "ódio" também desencadeavam reações
cromáticas.
As palavras normalmente associadas a emoções positivas
faziam aparecer cores como rosa, laranja e verde. Já as que evocavam algo
negativo provocavam cores como preto, marrom e cinza. Segundo Jamie Ward,
embora G.W. não acredite ter poderes místicos e nunca tenha se interessado
por esoterismo, é facilmente imaginável que em outro tipo de cultura, esse
fenomeno poderia ter esta interpretação.
Os artistas sempre pintaram
os santos com um auréola em volta da cabeça, e isso é algo que diz muito
sobre o fenômeno criativo. O escritor russo-americano Vladimir Nabokov
escreveu certa ocasião que percebia as letras em cores. Também é famoso o
poema sobre as cores do alfabeto escrito pelo francês Arthur Rimbaud,
sinestésico por excelência.
De acordo com pesquisas anteriores, uma
em cada duas mil pessoas é sinestésica. Mas outros estudos indicam uma
proliferação muito maior desse fenômeno.
O cientista britânico
convidou simples pedestres para participar de um teste destinado a
determinar se são ou não sinestésicos sem saber. Trata-se de certificar se
as pessoas com essa condição associam sempre as mesmas cores às mesmas
letras ou aos mesmos números, enquanto outras pessoas fariam isto por
adivinhação. Outros cientistas, como Vilayanur Ramachandran, da
Universidade da Califórnia em San Diego, acham que a sinestesia está
relacionada diretamente à criatividade, seja na poesia, nas artes plásticas
ou na literatura.
Para ele, nossa habilidade para relacionar sons e
objetos pode estar ainda na base da linguagem humana. A relação entre os
sentidos do ouvido e da visão pode ter constituído um passo importante para
a criação verbal.