O que é Paranormal
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Paranormal e Pseudociência em exame
 

Os Xamãs do Subúrbio

                                                                                  por Richard Petraitis, original em REALL


U
m estudante aproximou-se na classe outro dia e contou para mim uma bizarra história de um homem que alegava ser um verdadeiro xamã! De acordo com o relato, o homem encontrou o estudante em um restaurante e prosseguiu para contar a ele e a sua namorada que era um verdadeiro xamã que recebeu seu treinamento na Índia. (A Índia não é exatamente o berço do xamanismo. O dicionário Webster define um xamã como "uma pessoa que age como intermediário entre os mundos natural e sobrenatural, usando magia para curar doenças, prever o futuro, controlar forças espirituais, etc.". O xamanismo originou-se no Norte da Ásia, onde ainda é praticado entre parte do povo indígena da Sibéria). Eu pedi a meu estudante que, se encontrasse este "xamã" novamente, perguntasse como ele recebeu seu treinamento no país predominantemente hindu e sikh que é a Índia, conhecida por yogis e homens-santos, não xamãs!

Entretanto, distanciando-me de meu ataque usual àqueles que alegam poderes paranormais, com questões dirigidas a como estes poderes desafiam as leis científicas conhecidas, eu deixarei a história americana fornecer os exemplos que desaprovam as alegações de que qualquer xamã americano "moderno" possui poderes mágicos. A História mostrou que os xamãs não tinham poderes mágicos, mesmo quando praticados por aqueles que possuíam genuinamente tais crenças em nosso próprio passado - os americanos nativos. Por favor confie em mim quando eu digo que os nativos americanos tinham várias razões para usar suas melhores feitiçarias contra o inimigo invasor, os europeus. Começando com Colombo, Cortez e Pizarro, e terminando nas últimas batalhas indígenas pelas Américas, como o caso trágico em Wounded Knee nas Dakotas, a história registra que um xamã após outro usou seus melhores encantamentos e feitiços para combater os invasores europeus e proteger os guerreiros de sua tribo, mas sem resultado. Armas superiores, doenças devastadoras e uma tomada colonial contínua de terras, apesar da luta feroz e desesperada dos nativos americanos, superaram o povo original das Américas. Vamos estudar de perto relatos específicos de xamanismo sendo usado para combater o inimigo europeu durante as guerras indígenas, lutadas em um período de quatrocentos anos. A mágica usada pelos xamãs nativos americanos tentava, sem sucesso, deter os invasores europeus das várias nações americanas nativas.

Depois da chegada de Cristóvão Colombo em 1492, a exploração e colonização européia das Américas acelerou em passo rápido. O povo das Américas iria ser forçadamente desperto a uma cultura agressiva e nova a eles, a da Europa Ocidental. O imperador asteca, Montezuma, líder de um império militarístico e um crente nos poderes dos feiticeiros, tinha um certo número destes xamãs presentes em sua corte. Quando o aventureiro espanhol, Hernando Cortez desembarcou com seu pequeno exército próximo da atual Veracruz, México, Montezuma mandou seus melhores feiticeiros para jogar os mais fortes feitiços nos conquistadores. Os feitiços não funcionaram e os mágicos atribuíram a impotência de suas artes mágicas às "carapaças" dos conquistadores, possivelmente uma referência à armadura que eles usavam como proteção contra armas astecas. Incapaz de deter o exército de Cortez com mágica, o império asteca seria incapaz de impedir seu avanço à capital Tenochitlan. A chegada espanhola à cidade capital dos astecas seria o começo do fim para Montezuma e seu povo. A terra do México mudou de governantes, apesar da resistência asteca tanto por meios físicos quanto mágicos. Como um exemplo, durante um cerco à capital asteca em 1521, sacerdotes astecas realizaram cerimônias, incluindo sacrifícios humanos, e prometeram à população aflita que Cortez e seus aliados indígenas seriam entregues às mãos astecas pelo seu deus da guerra em oito dias. Infelizmente, a situação falhou em mudar militarmente, e a população tornou-se completamente desmoralizada. Eles já haviam fica desiludidos quando Cortez não revelou ser seu deus de volta, Quetzalcoatl!

Os xamãs nativos americanos, geralmente homens devido à hierarquia masculina na maioria das tribos indígenas, alegavam que tinham a habilidade de prever o futuro usando de adivinhação e buscas por visões. Apesar de inúmero xamãs e curandeiros entre as quinhentas nações nativas americanas antes de 1492, nenhum destes homens de mágica usou seus poderes especiais para prever e preparar seu povo para repelir a futura invasão européia. O imperador inca, Atahuallpa, em 1532, foi pego completamente de surpresa com a notícia de homens brancos desembarcando de navios na costa peruana. Adivinhadores incas também não forneceram nenhuma pista prévia para impedir a invasão, apesar de sua intimidade com o mundo dos espíritos. (Entretanto, um líder litorâneo, que trouxe a notícia da chegada espanhola a Atuahuallpa, realmente deu ao imperador inca um sábio conselho para silenciar o canhão espanhol - jogar cerveja inca dentro do cano para acalmar o deus do trovão dentro dele). Os nativos americanos da costa atlântica estavam similarmente surpresos com a primeira chegada de europeus às suas praias, apesar dos xamãs e profetas tribais em seu meio. Por que os nativos americanos não tiveram nenhum alerta sobre sua eventual conquista por nações inimigas com todo o talento sobrenatural maravilhosamente poderoso a seu lado? Por que nenhuma visão de navios chegando a suas praias, carregados com aventureiros militares, colonos e escravos?

Durante a Guerra de 1812, uma luta intensa varreu a América do Norte. Vários povos indígenas estavam no processo de perder suas terras natais, a leste do rio Mississipi, devido ao avanço das colônias americanas. Em 1811, uma confederação indígena estava sendo forjada pelo chefe Shawnee, Tecumseh, para combater as tropas dos Estados Unidos, que estava então à beira de guerra com a Inglaterra. O irmão de Tecumseh, Tenskwatana, "O Profeta", alegou possuir poderes especiais depois que manipulou informações sobre um eclipse, obtidas de oficiais britânicos para conseguir que aliados potenciais se alinhassem à confederação de seu irmão. Enquanto Tecumseh estava longe em uma campanha de recrutamento, "O Profeta" decidiu atacar um exército americano acampado nas proximidades. Tenskwatana convenceu centenas de guerreiros Shawnee e seus aliados que sua mágica iria fazer com que as balas dos soldados americanos iriam derreter como água. Infelizmente, assim como os paranormais de hoje, Tenskwatana falhou em cumprir o prometido. 6 de novembro de 1811 jogou desastre sobre os planos de Tecumseh na batalha de Tippecanoe, e uma perda em seu prestígio entre as tribos indígenas devido à alegação de seu irmão de realizar mágica. Um ataque feroz dos guerreiros indígenas foi abatido pelas salvas de fogo americano, e o exército indígena em Prophetstown foi dispersado diante de um futuro presidente, William Harrison, então governador de Indiana. Prophetstown foi queimada e o sonho de Tecumseh de uma confederação indígena gigante tornou-se vítima do pensamento mágico. (Tecumseh quase matou seu irmão enquanto estava enfurecido por causa do fiasco).

Em 1814, uma revolta "inspirada em Tecumseh" na nação indígena Creek, a guerra "Red Stick", foi liderada por alguns profetas "divinamente inspirados" que diziam possuir poderes especiais contra qualquer inimigo, especialmente o homem branco. Depois da destruição Red Stick do Forte Mims, três exércitos americanos lançaram uma invasão retaliatória a terras Creek. Uma vila Creek, chamada Red Eagle, também conhecida como "Terra Sagrada", era supostamente protegida por estes profetas Creek. Eles alegaram ter lançado uma barreira invisível em torno da vila que destruiria qualquer soldado branco que a atravessasse. Em 23 de dezembro de 1914, tropas americanas atacaram a cidade com baionetas, com apenas uma baixa americana, forçando os guerreiros Creek a uma dura retirada depois de sofrer baixas muito mais pesadas em suas próprias fileiras. Podemos dizer com segurança que a credibilidade dos profetas Creek entre seu povo provavelmente caiu um pouco naquele dia. (Uma situação similar ocorreu quando sacerdotes Zuni tentaram deter o avanço dos conquistadores durante o século XVI ao desenhar uma linha com milho sagrado, que foi imediatamente desfeita pela cavalaria espanhola). Mais uma derrota para aqueles alegando poderes sobrenaturais achados nos livros de história! Que tal mais um exemplo da falha xamânica em ajudar pessoas em uma luta de vida ou morte por sobrevivência?

Perto do século XIX, as tribos da América do Norte conseguiram confinar suas tribos remanescentes a algumas reservas em uso pela força militar. Haveria ainda mais um drama de resistência a ser realizado no oeste, a de Wounded Knee, Dakota do Sul. Um índio Paiute chamado Wovoka começou um movimento religioso chamado Dança Fantasma que antecipava o retorno de terras aos índios. Muitos de seus seguidores eram índios Sioux, um povo antes orgulhoso dono de terras que resistiu ao homem branco através da adoção com sucesso de cavalos e armas de fogo.

Wovoka alegava poderes sobrenaturais; ele dizia que os mortos iriam retornar e restaruar a terra aos índios. Wovoka disse aos seus seguidores que eles seriam protegidos das balas da cavalaria americana ao usar "camisas Fantasma". O movimento cresceu por dois anos e alcançou seu zênite em um confronto armado, em 21 de dezembro de 1890 em Wounded Knee, Dakota do Sul. O confronto começou com uma tentativa de dispersar uma grande número de índios Sioux, enquanto o exército americano movia-se para prender os líderes do movimento Dança Fantasma. Enquanto alguns guerreiros Sioux estavam entregando suas armas, um tiroteio começou entre os dois lados. Duas armas Hotchkiss, antecessoras de metralhadoras, atacaram o bando Sioux, deixando quase trezentos mortos, entre homens, mulheres e crianças. A mágica nativo-americana havia levado, através de camisas Fantasma e pensamento mágico, a um falso senso de invencibilidade. Foi um trágico fim a uma nação guerreira corajosa.

O que devemos concluir do número crescente de pessoas na América que advogam uma volta ao pensamento xamanístico (atualmente disfarçado de pensamento Nova Era), que tantas vezes teve trágicas conseqüências para muitas culturas ao redor do mundo contra os agressivos poderes europeus e seus exércitos tecnologicamente avançados? De xamãs do subúrbio, bruxas urbanas e médiuns espíritas a uma crença no poder dos cristais, podemos na nação Americana estar lançando a fundação para uma tragédia futura?

A alegação de realizar mágica através do contato com um mundo espiritual falhou não apenas nos testes históricos, mas também nos científicos. Toda pseudociência, incluindo poderes mágicos, desaparece frente ao método científico e ao teste da história. Então, se qualquer pessoa caminhar em sua direção em um restaurante e alegar que ele ou ela é um xamã, por favor pergunte a essa pessoa por que as nações nativo-americanas, imersas culturalmente em xamãs e curandeiros, falharam em repelir a invasão européia em seu continente, ou em salvar seu povo da destruição de novas doenças introduzidas pelos europeus. Apenas no século vinte as populações nativas americanas começaram a recuperar seus números perdidos, depois de um despertar rude de sua visão de mundo sobrenatural. Não vamos abraçar a pseudociência como um caminho para manipular o universo físico à nossa volta. A História oferece incontáveis exemplos de tragédia ligados a tal abordagem. Através da ignorância da história, como um homem famoso disse certa vez, você está condenado a repeti-la. 

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Publicado originalmente em Ceticismo Aberto no endereço http://www.ceticismoaberto.kit.net/shaman.htm

 


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