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Paranormal e Pseudociência em exame
 


Os poderes mágicos de Paulo Coelho

                                                                                 Jorge A. B. Soares 

 

Estamos em outubro de 1992. Paulo Coelho concede entrevista a W.F. Padovani, redator-chefe da revista Playboy [edição nº 207], numa época em que ele já havia publicado “Arquivos do inferno”, “Manual prático do vampirismo”, “O Diário de um Mago”, “O Alquimista”, “Brida”, “As Valkírias” e continuava explorando a fase esotérica de sua saga literária.

Logo no início da entrevista, estabelece-se o seguinte diálogo:


PLAYBOY  – O que você faz que uma pessoa normal não faz?

PAULO COELHO  – Sei abrir buraco em nuvem, fazer chover, mas não, é claro, a ponto de resolver a seca do Nordeste. Sei também adivinhar pensamento, mas não é sempre. E também consigo não sair numa fotografia, ainda que tenha sido clicado.
 
PLAYBOY  – Como assim?

PAULO  – Uma vez uma amiga queria tirar uma foto minha com uma daquelas máquinas que disparam sozinhas. Eu disse: “Eu não vou sair nessa foto". A máquina clicou nós dois juntos e onde eu deveria estar apareceu uma mancha branca. Ah, eu também consigo ficar invisível, sem desaparecer. Ou seja, posso fazer com que as pessoas não me vejam, mesmo eu estando diante delas.

PLAYBOY  – E isso já aconteceu?

PAULO  – Durante o sequestro do Roberto Medina [junho de 1990], eu fui até a casa dele, a pedido da família, para ver se podia ajudar de alguma maneira. Chegando lá, disse que só poderia ajudar com orações. Todos os jornalistas estavam lá na frente da casa, sabiam que eu estava ali, queriam falar comigo, eu precisava sair, mas não queria que eles me vissem. Aí saí e ninguém me viu mesmo. Fui a uma cantina ali perto, onde alguns jornalistas também estavam, e eles, comigo ali ao lado, perguntavam por mim para quem estava lá, e não conseguiam me ver.

PLAYBOY  – Como se faz isso?

PAULO  – É fácil, basta contrair os dedos dos pés e, com as mãos, fazer uma espécie de sinal de positivo com o polegar lançado para a frente e depois sair andando. Ninguém vai te ver. Não sei a razão, mas ninguém te vê mesmo.

PLAYBOY  – Você poderia sumir agora?

PAULO – Sim, mas não faria isso porque seria exibicionismo.

PLAYBOY  – Em O Diário de um Mago, você conta a história de que conseguiu fazer o vento soprar. Cá para nós, isso é verdade mesmo?

PAULO  – Quero deixar bem claro que tudo o que faço outra pessoa que siga o caminho da magia pode fazer. Quanto ao vento, é verdade, sim. E não é tão difícil. Qualquer iniciante em magia pode fazer isso. Pelo menos uma brisazinha.

PLAYBOY – Como?

PAULO  – É preciso se harmonizar com as plantas, perceber a alma do mundo. É um exercício de magia.

PLAYBOY  – Você consegue fazer o Maracanã sumir?

PAULO  – [Risos.] Não. lsso é tarefa para o David Copperfield que é outro tipo de mágico.

(...)

PLAYBOY – Você já viu a cara do Diabo?

PAULO – Já.

PLAYBOY – E ela é feia mesmo?

PAULO – Quer dizer, o que vi mesmo foi uma escuridão, em 25 de maio de 1974, lembro exatamente da data. Numa manhã, nos meus tempos de magia negra, fui fazer o pacto com as trevas, uma coisa para o resto da vida. Vi as trevas, e aquele era um momento de escolha: eu ficava ou fugia. Fugi porque senti muito pavor daquilo.

PLAYBOY – E o que aconteceu depois?

PAULO – Acho que uma coisa não tem relação com a outra, mas fui preso dois dias depois.

PLAYBOY – Por quê?

PAULO – Eu e o Raul Seixas fomos fazer um show em Brasília e subi no palco para discursar sobre a Sociedade Alternativa, ligada à nossa experiência com magia negra. Distribuí panfletos e tudo. Os militares souberam e, quando cheguei ao Rio, fui preso pelo DOPS. Estava com minha segunda mulher, que ficou tão traumatizada com tudo isso que pediu para eu riscar o nome dela do meu currículo. Eu risquei.


Nove anos se passaram. Em 22 de agosto de 2001, a revista Veja (edição nº 1.714) publica em seu caderno de entrevistas (páginas amarelas) uma entrevista com Paulo Coelho intitulada "Chega de mágica". Na trajetória em busca do reconhecimento, o escritor parece ter sacrificado o mago, como ele próprio se classifica na fase esotérica. Diz que não faz mais ventar, afirma ter preguiça de conversar com seus discípulos e declara preferir o fax à telepatia, agora definida como um "negócio sacal". Eis os trechos mais significativos dessa entrevista:


Veja – Seus livros têm falado cada vez menos de esoterismo. O senhor ainda se considera um mago?

Coelho – A idéia do mago é muito mais uma questão de percepção do universo. É uma maneira de olhar o mundo além da realidade concreta. Mas eu tenho vários livros que não tocam em magia. Meus livros falam de questões filosóficas.

(...)

Veja – Houve uma época em que o senhor dizia que era capaz de promover magias como fazer ventar, por exemplo. Hoje se arrepende dessas declarações?

Coelho – Não me arrependo, porque isso é verdade.

Veja – O senhor pode fazer ventar agora?

Coelho – Não, não faço mais. Isso é bobagem. Não preciso mais fazer demonstrações públicas.
 
Veja – E magias em benefício próprio? O senhor dizia que costumava abrir o trânsito com a força do pensamento. Ainda faz isso?

Coelho – Não, de jeito nenhum. Não vou gastar energia com isso. Já fiz, já passou.

Veja – Não fica mais invisível, como dizia ficar?

Coelho – Não, isso é inútil. Gasto minha energia em outras coisas agora.
 
Veja – Então, o senhor abriu mão da magia?

Coelho – Talvez desse tipo de magia. Acho que faz parte do aprendizado brincar um pouquinho. Depois, tem de falar sério. Descobri que essas coisas não são importantes. Esse negócio de fazer chover, por exemplo. Pô, o que que isso vai me ajudar? Além disso, já cheguei a dar três grandes demonstrações públicas do que eu sou capaz e acho que basta.

Veja – Quais foram elas?

Coelho – Uma foi para o jornal O Globo, em 1987. Eu disse que fazia ventar, a jornalista pediu para fazer e eu fiz [na reportagem mencionada, a jornalista não pede ao escritor que faça ventar. Relata ter ficado impressionada com o fato de uma forte ventania ter ocorrido logo após ela ter perguntado se ele era de fato um mago]. A segunda foi para a Marília Gabriela, assim que o presidente Fernando Collor foi eleito. Ela me perguntou como seria o seu governo. Eu disse: daqui a dois anos ele se ferra [a apresentadora informou, por meio de sua assessoria, que o episódio não ocorreu em seu programa]. A terceira foi quando o Jô Soares me perguntou se eu sabia o nome do namorado da Zélia [então ministra da Economia, que teve um romance com o colega Bernardo Cabral]. Eu dei as iniciais [o apresentador disse que nunca perguntou a Paulo Coelho o nome do namorado da ex-ministra. Informado de que o próprio escritor havia relatado o episódio, disse que talvez não se lembrasse].

Veja – É uma etapa ultrapassada, então?
 
Coelho – Digamos que foi um período de brincadeira, e brincar é permitido a todo mundo, até porque a vida é muito lúdica. Eu não tiro o valor dessa época em que via essa coisa da magia até com um certo deslumbramento.

Veja – O senhor não se considera mais um mago, portanto?

Coelho – Vou me considerar a vida inteira, mas não no sentido esotérico, isso eu nunca me considerei. É no sentido de uma percepção que os seres humanos têm... Aí ficou essa coisa de mago. Mas eu serei lembrado, se for lembrado, como escritor.

Dezesseis anos depois da sua primeira entrevista à Playboy, em setembro de 2008, em Santiago de Compostela, Espanha, Paulo Coelho concedeu entrevista a Adriana Negreiros, editora da Playboy e estava curioso em saber que assuntos seriam tratados nesta nova rodada. Disse que jamais voltaria a falar sobre sua suposta capacidade de fazer chover ou ventar. Também se recusou a falar sobre seu pacto com o demônio. Tinha certeza de que a conversa giraria predominantemente em torno de assuntos sexuais. E, quando a jornalista tentava tratar de assuntos mais convencionais, ele insistia: “Vamos falar de sexo, que é no que você está interessada”.

Ainda assim, lá pelo meio da entrevista, Adriana Negreiros arrisca:

Adriana – Você fuma, bebe vinho, fala palavrões. Ou seja, difere completamente da imagem que se tem de um mago. Você é um exemplar sui generis ou magos são assim mesmo?

Paulo Coelho  – Magia é o que tá definido no Diário de um Mago. O extraordinário reside no caminho das pessoas comuns. Qualquer um de nós tem poderes. As pessoas não os exercem porque estão extremamente condicionadas a rejeitar o que é novo. Daí muito da má vontade da crítica. Pô, esse cara diz que faz chover, que faz ventar, que é mago. E, como não entende, a defesa é criticar. Tudo o que a pessoa não entende, ela esculhamba.

Adriana – Quando você fala que faz chover ou ventar, isso é literal?  

Paulo Coelho  – [Desliga o gravador] “Eu prometi nunca mais responder a essa pergunta, não vou fazer comentários sobre isso”, diz. [E volta a ligar o gravador]. 

Até o fim da entrevista, mais nenhum assunto de cunho mágico ou esotérico foi abordado.




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