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Efeito placebo:
mistério desvendado
por Isabel
Gerhardt
Algumas vezes argumentos como o poder da mente ou a
fé são usados para justificar a recuperação de
pessoas doentes que não receberam nenhum tipo de
tratamento convencional. Pois agora cientistas no
Canadá apresentam evidências de que esse efeito
psicológico é real - e de considerável magnitude
-, pelo menos para aqueles pacientes que sofrem de
mal de Parkinson.
Num estudo publicado hoje na revista científica
"Science" (www.science.mag.org),
pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica
afirmam que o simples ato de receber algum tipo de
tratamento (seja ele ativo ou não) pode ser
eficiente devido à expectativa de benefício que ele
cria - o chamado efeito placebo.
No caso dos pacientes com Parkinson, a crença em
estar tomando algo realmente eficaz contra a doença
causaria a liberação da dopamina, um mensageiro
químico do cérebro envolvido no controle dos
movimentos automáticos e involuntários do corpo.
Os cientistas sempre acreditaram não existir nenhum
tipo de resposta química do corpo ao placebo.
Qualquer efeito seria apenas resultado de
auto-sugestão.
No entanto, ao examinar pessoas com mal de Parkinson
que receberam placebo, Jon Stoessl - coordenador do
estudo da "Science" - e seu grupo
constataram que a história não era exatamente
assim.
"Nossos resultados mostram que o efeito placebo
não só é real como de considerável magnitude. As
modificações observadas são comparáveis às que
ocorrem naqueles que tomam anfetamina, conhecida por
liberar quantidades substanciais de dopamina",
disse Stoessl à Folha.
Segundo o pesquisador, esses resultados podem ajudar
a explicar por que pacientes que participaram de
testes clínicos (nos quais a ação de um
medicamento é avaliada) frequentemente respondem
melhor à terapia do que aqueles que têm a mesma
doença e recebem o mesmo medicamento numa situação
de rotina.
Dor e
depressão
Para Raúl de la Fuente-Fernández,
pesquisador-visitante na Universidade da Colúmbia
Britânica e principal autor do estudo, existem três
condições médicas nas quais o efeito placebo já
foi, repetidas vezes, constatado como sendo
proeminente: dor, depressão e mal de Parkinson.
"Curiosamente, as três desordens estão
associadas à disfunção de neurotransmissores
[mensageiros químicos] no sistema nervoso
central", disse de la Fuente-Fernández à
Folha.
O pesquisador reconhece que, embora o impacto na
ativação do sistema da dopamina possa ser maior nos
pacientes com mal de Parkinson, a liberação desse
neurotransmissor pode ser um mecanismo comum do
efeito placebo nas três condições.
Stoessl pondera que outras substâncias químicas
mais relevantes para as condições de dor e
depressão podem ser liberadas em resposta ao
placebo. "Peptídeos opióides [moléculas que
imitam a ação do ópio], no caso da dor, ou mesmo
uma combinação de ambas [dopamina e outras
substâncias]", exemplifica.
O cientista afirma que esses resultados levantam
também uma nova questão ética. "Será que o
efeito placebo poderia ser deliberadamente usado no
tratamento de alguma doença?", questiona. Para
ele, tanto do ponto de vista científico como do
ético, uma pergunta difícil de responder.
Este
artigo foi originalmente publicado no caderno
"Folha Ciência", do jornal Folha
de S. Paulo, edição do dia 10 de agosto de
2001, sob o título "Substância inócua
combate Parkinson".
Copyright "Folha de S. Paulo".
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