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Paranormal e Pseudociência em exame
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A homeopatia não tem base científica
Harriet Hall
A homeopatia é um sistema de medicina que propõe
tratar a doença com doses diminutas de substâncias que em uma pessoa
saudável produziriam sintomas dessa doença. Tem por base o pensamento
não-científico de um único indivíduo equivocado, um médico alemão chamado
Samuel Hahnemann, que a inventou no início dos anos 1800.
A homeopatia não só não
funciona; não poderia funcionar. É inconsistente com o nosso conhecimento
básico de física, química e biologia. Oliver Wendell Holmes ridicularizou-a
completamente em 1842 com seu ensaio "Homeopathy and Its Kindred Delusions".
Ele teria ficado chocado ao pensar que alguém ainda poderia acreditar nela
em 2016.
Poucos usuários de homeopatia se preocuparam em
informar-se sobre o que estão tomando ou as ideias malucas por trás disso. A
maneira mais simples de explicar a teoria homeopática é com este exemplo: se
o café mantém você acordado, o café diluído irá levá-lo a dormir — quanto
mais diluído, mais forte será o efeito. Se você diluí-lo até que não reste
uma única molécula de café, o efeito será mais forte ainda. (A água de
alguma forma lembrará do café que não está mais lá.) Se você pingar esse
café ultradiluído em uma pílula de açúcar e deixar evaporar, a memória do
café será transferida para a pílula de açúcar, e a pílula aliviará a
insônia.Se algo
disso faz sentido para você, você deveria estar preocupado.
Você não pensaria que
alguém fosse comprar um medicamento que não contivesse nenhum ingrediente
ativo, mas eles compram. Um produto chamado Oscillococcinum é vendido na
maioria das farmácias americanas, faturando cerca de US$ 15 milhões por ano
de clientes que esperam aliviar os sintomas da gripe e resfriados. O nome é
o da bactéria oscilante que um médico francês, Joseph Roy, imaginou que podia ver no sangue das vítimas
da gripe e no fígado de patos. Nunca mais ninguém os viu. A embalagem do
remédio diz que o ingrediente ativo é Anas barbariae 200 CK HPUS. Isso
significa pato-do-mato (coração e fígado) e indica que eles diluíram a 1:100
e repetiram o processo 200 vezes, "sucussionando-o" (batendo, não agitando)
após cada diluição. Qualquer aluno de química pode usar o número de Avogadro
para calcular que, na 13ª diluição, há apenas chance 50-50 de que uma única
molécula de pato permaneça, e lá pela 200ª diluição o pato é história. Tudo
o que resta é o grasnido.
Os métodos de prescrição
dos homeopatas são incrivelmente ridículos. Eles fazem uma longa lista
de perguntas irrelevantes (de que cor são seus olhos? Quais os alimentos que
você não gosta? Do que você tem medo?). Eles consultam dois livros. O
primeiro é um Repertório listando remédios para cada possível sintoma – por
exemplo, a clarividência (sim, consideram isso um sintoma), cárie dentária e
"choroso". O segundo é a Materia Medica listando os sintomas
associados a cada remédio ("sonhar com ladrões" está ligado a “sal de
mesa”!). Sim, se sal de mesa diluído é considerado um remédio, então
praticamente qualquer coisa imaginável pode ser um remédio. Alguns dos meus
favoritos: muro de Berlim, luar eclipsado, cera de ouvido de cachorro, e
polo sul de um imã. É absurdo, mas cerca de cinco milhões de adultos e um
milhão de crianças usam remédios homeopáticos a cada ano nos EUA, em sua
maioria automedicados e comprados em farmácias.
Embora existam estudos
publicados que alegam que a homeopatia funciona, você pode encontrar um
estudo para apoiar quase qualquer coisa que você queira, e revisões
rigorosas de todo o corpo de pesquisa médica concluíram consistentemente que
a homeopatia não funciona melhor do que placebos. Conforme Edzard Ernst,
professor emérito de medicina complementar na Universidade de Exeter na
Inglaterra, e o autor Simon Singh escreveram: "A evidência aponta para uma
indústria fraudulenta que oferece aos pacientes nada mais do que uma
fantasia".
A FDA norteamericana permite a venda de remédios homeopáticos sob
uma cláusula de anterioridade isentando-os da obrigação de demonstrar
eficácia, mas está considerando mudanças na regulamentação. Eu gostaria que
eles exigissem uma etiqueta indicando: "Não contém nenhum ingrediente ativo.
Somente para fins recreativos.” A persistência da homeopatia demonstra a
incapacidade do público em geral de pensar de forma crítica. Muita gente
usou a homeopatia em vez de medicamentos eficazes, vacinas e profilaxia da
malária. Pessoas morreram.
A homeopatia era falsa em
1842, e continua a ser falsa hoje. A esta altura já deveríamos tem um melhor
entendimento.
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Harriet Hall é uma médica de família aposentada que escreve sobre
medicina, medicina alternativa, ciência, charlatanismo e pensamento
crítico. Ela é um dos fundadores e editores do Science-Based
Medicine blog, afiliado ao Committee for Skeptical Inquiry, e membro
da diretoria da Society for Science-Based Medicine. Este artigo foi
publicado na revista Scientific American. edição novembro de 2016,
pág. 50. |
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