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Paranormal e Pseudociência em exame
 


Ervas medicinais:
é preciso ter cuidado!


                                                                                            por Jorge A. B. Soares


No mundo inteiro cresce o consumo de medicamentos fitoterápicos produzidos à base de plantas medicinais. Em termos econômicos, trata-se de uma indústria que gera 15 bilhões de dólares anualmente. Nesses remédios considerados "naturais" e inofensivos, o consumidor busca preços mais acessíveis e tenta fugir dos efeitos colaterais dos medicamentos químicos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou aos países membros o desenvolvimento de pesquisas visando a utilização da flora com fins terapêuticos. Das 119 substâncias químicas, princípios ativos extraídos de plantas e utilizados na medicina, 74% foram obtidas com base no conhecimento popular de fitoterapia.

Essas pesquisas avançam continuamente a nível mundial revelando uma série de novas substâncias cuja ação curativa foi cientificamente comprovada. A má notícia é que uma parte dessas ervas medicinais mostraram possuir efeitos prejudiciais à saúde humana. Inúmeros trabalhos científicos têm relatado efeitos tóxicos principalmente sobre o fígado, e em escala menor sobre os rins, o sangue, a pele, o sistema nervoso e cardiovascular, bem como efeitos mutagênicos e carcinogênicos.

Por exemplo, o Gingko biloba é indicado para o tratamento de doenças vasculares, porém tem sido acusado de causar sangramento e, em casos raros, derrame cerebral. O confrei é cicatrizante, anti-inflamatório e analgésico, mas se ingerido é tóxico provocando câncer. A camomila é anti-inflamatória, clareadora do cabelo e anti-espasmódica, mas pode ocasionar dermatite e alergia. A Aristolochia fangchi, que foi utilizada inadvertidamente como inibidora do apetite em preparados para emagrecimento, é nefrotóxica e produz câncer na bexiga. O dong quai e o ginseng, receitados para aliviar os efeitos da menopausa, induzem significativamente o crescimento de células cancerígenas na mama. Kava-kava, indicada contra ansiedade, estresse e insônia, está sendo investigada sob suspeita de causar sérios danos ao fígado, com 25 casos de toxicidade hepática registrados num único mês na Suíça e na Alemanha. A pata-de-vaca, Bauhinia variegata, muito usada por diabéticos para controlar a glicemia, teve seu efeito comprovado por um estudo da Universidade de Brasília (UnB). A pesquisa mostrou, entretanto, que é preciso ter cautela ao consumi-la, já que ela ativa receptores que podem aumentar o risco de câncer.

O envolvimento de plantas medicinais na toxidez renal ocorre com tanta frequência que já é conhecido na literatura médica como "nefropatia das ervas chinesas", (Chinese herb nephropathy - CHN), uma forma progressiva de fibrose renal. Recentemente a Organização Mundial de Saúde criou um centro que vai monitorar, fazer testes e aprovar medicamentos derivados de ervas. Existem recomendações para que os setores da medicina tradicional colaborem com os setores alternativos.

Grandes dificuldades inerentes à fitoterapia advém do fato de que cada espécie vegetal (planta) é uma mistura complexa de milhares de substâncias químicas, e em geral fica difícil identificar, separar e concentrar os componentes farmacológicos úteis (princípios ativos), complicando muito a padronização da dosagem desses produtos. Sabe-se também que a concentração do princípio ativo varia muito com a variedade da planta medicinal, o solo, o clima e as condições de cultivo e colheita.

Assim, ao adquirir um fitoterápico numa banca de feira, loja de produtos naturais ou no supermercado, você pode estar colocando em risco sua saúde, pois não há nenhuma garantia de que você vai obter a substância certa no estado de pureza e na dosagem correta para obter a ação terapêutica desejada.

As normas de Saúde Pública vigentes para a fiscalização dos medicamentos exigem das companhias farmacêuticas que um novo remédio antes de ser aprovado e lançado no mercado seja submetido a longos (15 anos, em média) e exaustivos testes de eficácia e segurança, envolvendo amostras populacionais de milhares de pessoas, a um custo médio de 500 milhões de dólares. Porém, por incrível que pareça, a produção e comercialização dos fitoterápicos não estão sujeitas a esse mesmo código de normas rígidas.

O consenso atual da comunidade científica é que cada vegetal é um caso específico a ter suas propriedades farmacológicas e sua segurança exaustivamente estudadas. É necessário realizar estudos completos e sofisticados com cada produto, pois cada um deles pode ter uma ação no laboratório ("in vitro") e outra diferente no organismo humano ("in vivo").

Até que essas pesquisas cheguem ao fim, é preciso ter cuidado!...



 


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