O que é Paranormal
e Pseudociência?
Artigos em foco
Dicionários e Glossários
Livros de Paranormal
e Pseudociência
Links
|
Paranormal e Pseudociência em exame
|
|
Falsas Ciências e Teorias Pseudocientíficas
Valdir Gomes (*)
Cientistas e
jornalistas da área científica de vários países têm alertado nos últimos
anos sobre a invasão das chamadas pseudociências (ou falsas ciências) nos
meios de comunicação e acadêmicos. O astrônomo americano Carl Sagan, o
físico brasileiro Marcelo Gleiser, o biomédico Renato Sabbatini (articulista
de ciência do Correio Popular, de Campinas), o jornalista Ricardo Bonalume
Neto, da Folha de S.Paulo, e o jornalista e acadêmico espanhol Manuel Calvo
Hernando, entre outros, têm se dedicado à crítica de fenômenos paranormais,
místicos e "alternativos".
Atualmente,
cientistas que se dedicam à divulgação da ciência têm se organizado em
sociedades de combate à proliferação de teorias pseudocientíficas, como o
Csicop – Commitee for the Scientific Investigation of Claims of the
Paranormal
e a
Sociedade Brasileira de Céticos e Racionalistas,
principalmente porque essas teorias têm uma relação muito perigosa com a
ciência legítima, por motivos que explicarei mais adiante.
Mais do que combater a pseudociência, acredito ser de extrema importância
também explicar o que são e como funcionam as falsas ciências. Como afirmou
Sagan (O
mundo assombrado pelos demônios,
Companhia das Letras, 1996, pág. 30): "Se alguém nunca ouviu falar de
ciência (muito menos de como ela funciona), dificilmente pode ter
consciência de estar abraçando a pseudociência". Particularmente, chamo a
atenção para o caminho inverso: conhecer a pseudociência, para saber
discernir entre o verdadeiro e o simulacro.
Para uma conceituação de pseudociência, faz-se necessário, primeiramente,
partir da própria formação da palavra. Conhecer a morfologia de um termo,
comparando-o a outro da mesma origem, pode ser um bom caminho para o
entendimento de um fenômeno e suas implicações. O prefixo grego "pseudo"
significa "falso"; anteposto a determinadas palavras em língua portuguesa,
como elemento aglutinador, tem o objetivo de indicar que algo a que nos
referimos apresenta-se de uma forma enganosa, que se utiliza de uma
aparência simulada para ganhar credibilidade de quem o observa.
Dessa forma, a comparação com termos à primeira vista similares pode ajudar
a clarear de vez as idéias. "Anticiência", por exemplo, define um movimento
contrário à ciência, no sentido de negação valorativa. Um terceiro termo,
"protociência", designa uma ciência em seu estágio primário de evolução, que
tenta estabelecer legitimidade e conquistar reconhecimento na comunidade
científica. Diferentemente da "pseudociência", a "protociência" já se
delineia nos cânones científicos e seu estatuto de ciência depende do tempo
necessário para que suas hipóteses e experimentos demonstrem consistência e
comprovem a eficiência dos conceitos e teorias, criando-se, a partir daí,
seu rol de leis e pressupostos específicos, amparados em leis e pressupostos
gerais já sedimentados. Embora ambas surjam de especulações, conhecimento
intuitivo e estruturas conceituais questionáveis, geralmente é a
protociência que mais tem condições de oferecer uma proposta de criatividade
e curiosidade capaz de gerar interesse de pesquisa e produção de
conhecimento racional. No entanto, quando a insistência nas especulações
tornam as teorias e práticas pseudocientíficas uma ameaça até à saúde
pública, combatê-las é o melhor caminho para o equilíbrio da própria ciência
e da sociedade. O que pode acontecer é a inclusão da protociência (ou
ciência de fronteira) como alvo desse ataque, impedindo sua evolução como
conhecimento racional.
As
teorias pseudocientíficas apresentam-se como uma proposta de conhecimento
aparentemente sustentada por bases sólidas de investigação, seleção,
comparação, apuração e explicação de fatos e objetos. Costuma responder com
maior rapidez aos questionamentos, porque age eliminando etapas
indispensáveis à construção de um conhecimento sólido e objetivo. Agindo
assim, ela acaba atingindo o público também rapidamente, difundindo seus
argumentos, influenciando e confundindo a opinião pública antes mesmo de a
resposta científica entrar em cena para lançar uma explicação mais racional
sobre os fenômenos. No entanto, quando chega o momento de apresentar
publicamente justificativas e resultados para as teorias expostas – muitas
sequer experimentadas –, as pseudociências tendem a escapar para o campo das
argumentações subjetivas.
Embora a disseminação do conhecimento científico e o grande avanço da
ciência possam nos fazer acreditar que teorias pseudocientíficas se
enfraqueçam e desapareçam por si mesmas, devido às suas características e ao
suporte teórico frágil que as sustentam, o que percebemos é o surgimento
contínuo de novas disciplinas e teorias ditas "científicas", mas
questionáveis do ponto de vista da metodologia científica. Para tirar a
prova, basta uma consulta ao
Dicionário Cético
(Skeptic's
Dictionary),
elaborado pelo filósofo Robert Todd Carroll, fonte confiável de crítica e
análise de práticas científicas e não-científicas e de fenômenos diversos,
como alquimia, cirurgia psíquica, crenças, iridiologia, vampiros, raptos por
extraterrestres e homeopatia, entre as mais de 320 definições que apresenta.
Cada vez mais propagadores da pseudociência insistem em tirá-la da
obscuridade, usando termos, métodos e conceitos das ciências genuínas, o que
causa mal-estar na comunidade científica e confusão de conceitos e valores
na sociedade - o grande alvo das falsas ciências, em grande parte
encorajadas pelos meios de comunicação de massa. É em geral pela mídia que
as pessoas tomam contato com superstições e pseudociências. A partir daí,
pela importância e credibilidade que atribuem aos meios de comunicação, em
especial à TV, passam a acreditar em astrologia, quiromancia, clarividências
e terapias alternativas de toda natureza. Terminam, então, por buscar
conselhos e apoio para tomar decisões muita vezes vitais, ouvindo
pseudo-estudiosos que se dizem autoridades em conhecimentos, muitos deles
até desprovidos de qualquer lógica.
Certamente, as comunidades científica e acadêmica concordam sobre os danos
que a pseudociência podem causar. Trata-se de uma volta ao obscurantismo,
que deve ser encarada e combatida pelos homens da ciência e da comunicação,
especialmente por jornalistas e divulgadores científicos, se não quisermos
uma regressão social às superstições e ao charlatanismo medievais. Talvez o
maior combustível da pseudociência ainda seja o desconhecido, o
não-teorizado, o não-pesquisado; acredito que o surgimento e proliferação
das teorias pseudocientíficas estarão sempre ligados à existência do
"mistério" e do não-resolvido. Na medida em que as fronteiras do
conhecimento avançam, amplia-se proporcionalmente o horizonte do
desconhecido e, logo, do misterioso. Este é um dos axiomas da ciência.
(*) Jornalista, pós-graduando em Comunicação Social na Universidade
Metodista de São Paulo (Umesp)
|
COMENTÁRIOS:
paraciencia@hotmail.com
|
|