O que é Paranormal
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Falácias Astrológicas
Por
Leonardo Vasconcelos
Em todos os jornais, é lugar-comum encontrar uma coluna de Astrologia; em
programas televisivos e de rádio, são chamados especialistas sobre o assunto
para expressarem suas “gabaritadas” opiniões, sejam elas sobre a carreira de
um artista ou sobre o futuro econômico do país. Mas afinal, a astrologia é
digna de crédito? Esse misticismo que adora se travestir de ciência, costuma
utilizar o “apelo a antiguidade” para se auto-afirmar como um sistema
sólido. Como se a idade de uma crença tivesse alguma relação com sua
veracidade.
Acreditando que planetas, satélites e estrelas influenciam na personalidade,
humor e no “destino” das pessoas, a astrologia assume lugar de destaque como
uma das pseudociências mais populares. É realmente lastimável que a
esmagadora maioria dos seus adeptos nunca questionou a obscura metodologia
adotada por ela. Em primeiro lugar devo constatar que constelações são
apenas falsos padrões, atribuições arbitrárias de formas, a um número
qualquer de estrelas, de acordo com sua visualização aqui da Terra. Como o
padrão é arbitrário, onde alguns povos viram um Urso outros identificaram um
desenho totalmente diferente. Essas estrelas não têm relação entre si senão
a que impomos a elas, pois distam dezenas de anos-luz uma das outras, e
algumas nem mais existem, chegando até nós apenas sua luminosidade. Sendo o
universo dinâmico, a posição relativa entre as estrelas muda com o tempo,
por isso, se os mesmos povos que identificaram animais e heróis no céu
pudessem visualizá-lo nos dias de hoje, provavelmente encontrariam outras
configurações.
A hipótese de que os desenhos criados por nós ao ligar pontos luminosos do
firmamento atuem em nossas vidas é, no mínimo, infundada. Analogamente
poderíamos defender que as pessoas que são atingidas pela chuva de uma nuvem
com formato de coelho, se tornariam mais ágeis e férteis, ou que uma mulher
ao conceber um menino sob uma pedra de formato fálico garantiria sua
virilidade, todas as duas hipóteses se apóiam em alicerces similares aos da
astrologia.
Agora falemos dos planetas. Para a sociedade greco-romana os planetas
representavam deuses, e foi associando os astros às divindades que surgiram
os nomes destes. Mercúrio tem o período sinódico (tempo que planeta leva
para voltar ao seu ponto de partida, visto da Terra) mais curto, fora
relacionado com o veloz mensageiro dos deuses, Hermes em grego. A cor
avermelhada de Marte lhe rendeu o batismo com o nome do deus da Guerra, Ares
em grego. Vênus é um dos corpos celestes mais bonitos e brilhantes, também
conhecida como jóia do céu e estrela da manhã, por sua exuberância merecera
ser chamada pelo nome da deusa da beleza e do amor, Afrodite em grego.
Júpiter o maior de todos os planetas tem o nome do maior de todos os deuses,
Zeus em grego. Saturno pela lentidão de sua órbita foi associado ao deus do
tempo, Chronos em grego. Os efeitos astrológicos destes planetas são muito
similares ou os mesmos que se atribuíam aos seus respectivos deuses
correspondentes, tornando a astrologia tão ligada à mitologia grega quanto o
cristianismo aos evangelhos.
Os planetas descobertos depois, que não podem ser vistos a olho nu, também
receberam nomes de deuses gregos, embora já não tivesse nenhuma carga
mística era desejável manter algum padrão. Plutão, por exemplo, é o mais
afastado do Sol (exceto por determinados anos de sua órbita, quando fica à
frente de Netuno), recebendo menor incidência de luz. Para simbolizar seu
aspecto sombrio foi escolhido o deus do mundo subterrâneo, dos mortos, das
trevas, Hades em grego. O mais intrigante é que novamente temos um efeito
astrológico análogo ao efeito simbólico da divindade grego-romana.
Indivíduos com essa regência seriam mais misteriosos, tenderiam ao ocultismo
e talvez até tivessem afinidade literária pelo romantismo mal-do-século.
Como podemos ver até agora, a cientificidade da astrologia é nula.
Muitos de nós já ouvimos o argumento “A Lua influencia as marés dos oceanos,
como nosso corpo tem 70% de água nos influencia também.” Poderia ser
persuasivo num primeiro segundo, mas alguém já viu o poderoso efeito lunar
em copos d’água e pratos de sopa? Piscinas talvez? Isso acontece porque a
lua afeta apenas massas não confinadas de água. O astrônomo Kepler de Souza
O. Filho resume em algumas palavras como funciona este mecanismo: “A idéia
básica da maré provocada pela Lua, por exemplo, é que a atração
gravitacional sentida por cada ponto da Terra devido à Lua depende da
distância do ponto à Lua. Portanto a atração gravitacional sentida no lado
da Terra que está mais próximo da Lua é maior do que a sentida no centro da
Terra, e a atração gravitacional sentida no lado da Terra que está mais
distante da Lua é menor do que a sentida no centro da Terra. Portanto, em
relação ao centro da Terra, um lado está sendo puxado na direção da Lua, e o
outro lado está sendo puxado na direção contrária. Como a água flui muito
facilmente, ela se ‘empilha’ nos dois lados da Terra, que fica com um bojo
de água na direção da Lua e outro na direção contrária.” Por isso não há
efeito de maré em uma região com volume tão pequeno quanto o de uma bacia,
de uma piscina ou até mesmo de um açude, pois distintos pontos dessas
regiões estão praticamente eqüidistantes do astro atrator, sofrendo uma
força de maré, constante em todo o volume de líquido e, portanto, incapaz de
deformá-lo. Um outro ponto importante é lembrar que a força gravitacional é
proporcional à massa, mas inversamente proporcional ao quadrado da
distância, “Qualquer movimento trivial, como se levantar de uma cadeira, ou
simplesmente caminhar pela rua, produz uma aceleração milhões de vezes maior
do que a provocada pela gravidade da Lua”, lembra o astrofísico Vítor
D’Ávilla.
Mesmo que sejamos insistentemente lembrados das marés pelos astrólogos,
fenômeno correlacionado com a gravidade, as influências dos astros não se
dão por essa força. Ao calcular o horóscopo, eles adotam que Marte produz o
mesmo efeito astrológico quando está do mesmo lado do Sol que a Terra e
quando está do outro lado do Sol, cinco vezes mais distante. Se a distância
não é considerada nos cálculos, por que não levar as outras galáxias,
quasares e etc? Também não depende da massa, pois a massa de Júpiter é 318
vezes a da Terra, já Plutão tem 0,18% da massa da Terra. O que também não é
considerado nos cálculos. Se não depende da massa por que não relevar
asteróides, cometas e os satélites de outros planetas? Se não depende da
massa nem da distância não tem nenhuma relação com a gravidade. Aliás, não
dependendo da distância não tem nenhuma relação com qualquer força conhecida
pela Física.
Outro fato de extrema relevância é que a forma mais popular desta
pseudociência, a vista nos horóscopos dos jornais, é praticamente a mesma de
Ptolomeu do século 2 d.C., inclusive com a Terra no centro do Sistema Solar.
Ignorando completamente a precessão dos equinócios, que moveu os pontos de
equinócio e solstício para o oeste cerca de 30 graus nos últimos 2.000 anos.
Devido à precessão dos equinócios, o Sol atualmente cruza Áries de 18 de
abril a 12 de maio, Touro de 13 de maio a 20 de junho, Gêmeos de 21 de junho
a 19 de julho, Câncer de 20 de julho a 9 de agosto, Leão de 10 de agosto a
15 de setembro, Virgem de 16 de setembro a 30 de outubro, Libra de 31 de
outubro a 22 de novembro, Escorpião de 23 de novembro a 28 de novembro,
Ofiúco de 29 de novembro a 16 de dezembro, Sagitário de 17 de dezembro a 18
de janeiro, Capricórnio de 19 de janeiro a 15 de fevereiro, Aquário de 16 de
fevereiro a 11 de março e Peixes de 12 de março a 17 de abril. Ou seja,
cerca de 83% das pessoas nem ao menos são do signo que acham que são. Por
que então uma significativa parcela da população tende a imaginar que os
signos traçam corretamente a personalidade dos indivíduos? Isso se deve
principalmente ao Efeito Forer, também conhecido como validação subjetiva. O
psicólogo B.R. Forer descobriu que as pessoas tendem a aceitar descrições
vagas e gerais de personalidades como unicamente aplicáveis a si próprios
sem perceber que a mesma descrição pode ser aplicada a quase qualquer
pessoa. Por exemplo: “Tem necessidade de que as outras pessoas gostem de
você e o admirem, mas é critico consigo mesmo. Embora tenha algumas
fraquezas, é geralmente capaz de compensá-las. Tem ainda capacidades não
utilizadas, que ainda não usou em seu proveito. Disciplinado e com
autocontrole por fora, tende a ser inseguro no íntimo. Por vezes tem sérias
dúvidas se tomou a decisão correta ou se agiu corretamente. Prefere uma
certa mudança e variedade e não gosta de restrições e limitações. Tem também
orgulho no seu modo de pensar independente; e não aceita afirmações de
outrem sem prova satisfatória. Mas descobriu que não é bom ser franco demais
ao revelar-se aos outros. Por vezes é extrovertido, afável e sociável,
enquanto noutras vezes é introvertido e reservado. Algumas das suas
aspirações tendem a ser irrealistas.” Esta análise de personalidade foi dada
a vários estudantes do curso de Psicologia, fingindo-se tratar de um
diagnóstico particular. Foi pedido aos alunos que dessem uma nota de 0 a 5,
dizendo quão perfeita é a descrição. A média foi 4,26. Num outro experimento
similar com 20 adolescentes do sexo feminino de escolas públicas, a média
foi 8,3, numa escala de 0 a 10.Geoffrey Dean inverteu os perfis astrológicos
de 22 pessoas, ou seja, substituiu as frases do horóscopo por outras que
significavam o oposto. Ainda assim, as pessoas continuaram a afirmar que os
perfis se adequavam a elas em 95% dos casos, a mesma freqüência das pessoas
que receberam os horóscopos corretos.
(Dean, G. Does Astrology Need to be True? Part 1: A Look at the Real Thing,
Skeptical Inquirer, 11, 166,1987).
Devemos recordar que a maioria de nós tem um pouco de uma infinidade de
adjetivos. Nós não nos resumimos a uma lógica binária “é” ou “não é”, “sim”
ou “não”, “racional” ou “emocional”. Dificilmente alguém não tem em sua
personalidade um certo grau de teimosia, impulsividade, simpatia, entre
inúmeras outras características. Ficando muito fácil convencer uma pessoa de
que conseguimos descrevê-la.
Dezenas de outros testes foram realizadas para apurar a eficácia da
astrologia. O psicólogo Bernard Silverman, da Michigan State University,
estudou o casamento de 2978 casais e o divórcio de 478 casais, comparando
com as previsões de compatibilidade ou incompatibilidade dos horóscopos e
não encontrou qualquer correlação. Pessoas “incompatíveis” casam-se e
divorciam-se com a mesma freqüência que as “compatíveis”.
O físico John McGervey, da Case Western University, estudou as biografias e
datas de nascimento de 6000 políticos e 17000 cientistas e não encontrou
qualquer correlação entre a data de nascimento e a profissão, prevista pela
astrologia.
Um teste duplo-cego da astrologia foi proposto e executado pelo físico Shawn
Carlson, do Lawrence Berkeley Laboratory, Universidade da Califórnia. Grupos
de voluntários forneceram informações para que uma organização astrológica
bem estabelecida produzisse um horóscopo completo da pessoa, que também
preenchia um questionário de personalidade completo, pré-estabelecido de
comum acordo com os astrólogos. Estes tinham previsto antecipadamente que a
taxa de acerto deveria ser maior do que 50%, mas, em 116 testes, a taxa de
acerto foi de 34%, sendo que a taxa esperada pelo acaso neste teste em
especial era de 33%! Os resultados foram publicados no artigo A Double Blind
Test of Astrology, S. Carlson, 1985, Nature, Vol. 318, p. 419.
Os astrônomos Roger Culver e Philip Ianna, autores do livro Astrology: True
or False, (1988, Prometheus Books), registraram as previsões publicadas de
astrólogos famosos e suas organizações por cinco anos. Das mais de 3000
previsões específicas, envolvendo muitos políticos, atores e outras pessoas
notórias, somente 10% se concretizaram.Na revista Personality and Individual
Differences, 21(3), páginas 449-454 em 1996, foi exposto um trabalho de G.
Dean que demonstrava que as diferenças de personalidade entre gêmeos
idênticos não podem ser previstas através da astrologia.
Mesmo textos como esse não são capazes de erradicar a crença neste
esoterismo sem sentido. Afinal seríamos influenciados por forças que não
dependem da massa dos planetas nem de sua distância, mas sim do seu valor
simbólico na mitologia grega. E esse efeito se daria no momento do
nascimento. Por que não na concepção? Por que os nove meses de gestação são
irrelevantes, importando apenas o momento do nascimento? Enquanto a mídia
proliferar essas crendices bobas, não houver acesso a educação e não se
desenvolver o pensamento crítico, os charlatões não morrerão de fome. Se
existem mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia?
Possivelmente, mas nenhuma delas é explicada pela Astrologia.
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