O que é Paranormal
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Paranormal e Pseudociência em exame
 

O elogio da ciência

Alberto Nóbrega e Cristina Caldas

 

O caderno “Ilustíssima” da Folha de São Paulo, edição de 3/6/2018, publica uma entrevista com o cientista português António Coutinho,  Diretor do Instituto Gulbenkian de Ciência, onde ele fala sobre o método científico. Destacamos aqui dois trechos dessa entrevista onde ele discorre de maneira simples e concisa sobre o que é ciência, filosofia, metafísica, religião, tecnologia e outros conceitos fundamentais.

PERGUNTA:  Qual é a singularidade das ciências naturais em relação a outras formas de ser e de estar no mundo?

O exercício de derivar, racionalmente, as leis fundamentais que organizam o mundo. Se descobrimos essas leis, sabemos como o mundo funciona e como nós próprios funcionamos. Eu acho que a singularidade está totalmente baseada na racionalidade, e isso é muito novo. Em geral, a humanidade tentou de forma predominante perceber as coisas ou pela mágica, ou pela religião.

A ciência é distinta. É uma das poucas atividades humanas [cuja] origem se pode identificar e que tem uma origem única, simultânea à origem da democracia.

Isso já diz muito, ou seja, não há ciência sem um regime em que as pessoas possam exprimir o que pensam, porque a ciência avança pelas contradições que tem, pela oposição das hipóteses emitidas. A ciência evolui no domínio das dúvidas, e não no domínio das verdades, da certeza absoluta, que é o domínio da religião.

Como vamos excluindo as hipóteses que estão erradas, esta coisa avança, progride. Hoje sabemos mais do que há cem anos, há dez anos, do que no ano passado. Todo o resto da atividade humana não progride.

Por isso filosofia não é ciência, porque nunca progride. Eu tenho o maior respeito pelos filósofos porque o objetivo da filosofia é o mesmo que o da ciência: explicar o mundo e a nós próprios. Agora, nós temos um bom processo e eles não têm, portanto estão fadados a desaparecer. O que é o objetivo da filosofia vai ser resolvido pela ciência, e a filosofia vai passar a história.

Eu acho que os cientistas são os únicos que resolvem problemas, e [isso] é uma coisa de que as pessoas, habitualmente, não estão muito cientes. Problemas absolutamente fundamentais, que muita gente chamaria de metafísica, [como] a origem do universo, o que é a consciência e outros problemas muito mais triviais, como [matar] uma célula cancerígena, coisas assim. Isso é o que nós fazemos, resolver problemas.

 

PERGUNTA:  Quando você fala ciência, você inclui também os processos tecnológicos, que de alguma forma derivam, são consequência da ciência?

Eles são consequência da ciência. Durante muitos séculos, a tecnologia [teve] base empírica. As pessoas andaram de barco durante muitos milênios, até que Arquimedes descobriu por que aquilo flutuava. Hoje em dia, para inventar um nanotubo de carbono, é preciso bastante ciência; para melhorar um tratamento médico, tem que haver ciência.

É por isso que de vez em quando algum governo um pouco menos estúpido e mais iluminado que os outros investe na ciência: não é pela ciência, é pela tecnologia que está se derivando, porque agora todos já veem que o motor do progresso é a ciência. Porque a ciência produz tecnologia, a tecnologia produz inovação, inovação produz economia, crescimento econômico etc. É triste que os governos não invistam na ciência pelo que a ciência é.



© Copyright Folha de São Paulo, edição 03/06/2018.




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