O poder dos cristais
por Jorge A. B. Soares
Desde a mais remota
antiguidade, os cristais e outras pedras preciosas vêm sendo cobiçados
pelos seus poderes mágicos de canalização de energia cósmica, proteção e
cura. Há milhares de anos os xamãs usavam cristais para cura e outros
fins, e brincos de cristal foram desenterrados em escavações do
Neolítico que remontam a 80.000 anos atrás.
Em 300 A.C., Teofrasto, em seu tratado
"Sobre as pedras"
(Perì liton),
menciona
o quartzo mais do que qualquer outro mineral, tal era a popularidade
desse mineral na época, e o antigo Livro dos Mortos indicava
amuletos de quartzo em forma de coração para serem colocados na cavidade
peitoral das múmias para afugentar ladrões de corações. Na Europa
medieval havia grande demanda por ametista para prevenir excessos em
bacanais e o mais fino cristal, valorizado pela sua pureza e ausência de
jaça, era talhado em bolas para adivinhação, uma forma de arte
popular mais tarde associada à tradicional cigana que lê a sorte.
Deve-se à falta de conhecimento científico a antiga
crença no poder mágico dos cristais e pedras preciosas. Os ocultistas
modernos, todavia, distorcem e falsificam o conhecimento científico para
promover a crença no poder dos cristais. Segundo eles, os cristais
canalizam energias positivas e repelem as energias negativas, geram
“vibrações” que ressoam em “freqüências” curativas, atuam sobre os
chakras equilibrando o “yin” e o “yang”, limpam e energizam o ambiente,
auxiliam na sintonização e na meditação, etc., etc.
A idéia de que cristais podem estocar e irradiar
energia parece ser baseada na compreensão equivocada de uma das curiosas
características de certos cristais que é a de produzir uma carga
elétrica quando comprimidos. Isto é conhecido como efeito piezelétrico
descoberto em 1880 por dois cientistas franceses, os irmãos Pierre e
Jacques Curie. O efeito piezelétrico, todavia, não confere aos cristais
poder de cura ou proteção, a pesar das alegações dos adeptos da Nova Era
que usam ou vendem cristais.
Certos cristais, como o quartzo, geram um campo
elétrico sob ação de um esforço mecânico e o processo inverso também
ocorre. Se um cristal piezelétrico, com eletrodos em faces opostas,
sofre uma tensão mecânica de compressão, um potencial elétrico aparece
entre os eletrodos e pode ser medido com um instrumento. Se o esforço
for de tração, a polaridade será inversa. No processo inverso se um
potencial elétrico é aplicado nos eletrodos, o cristal sofre uma tensão
mecânica de compressão. Se a polaridade for invertida, o esforço
mecânico também se inverte, ou seja, será de tração.
Pierre e Jacques Curie descobriram também que um
pedaço de cristal de quartzo, cortado na forma de uma lâmina ou de um
anel e colocado a vácuo num circuito elétrico e em baixa temperatura,
vibra 32758 vezes por segundo, como um pêndulo ultra-rápido. Essa
descoberta deu origem aos osciladores e filtros de freqüência utilizados
hoje em dia em relógios, radiotransmissores e inúmeros aparelhos
eletrônicos.
Cristais não geram energia, apenas a transformam.
Sugerir que o eletromagnetismo (que não é gerado pelos cristais) possa
ser utilizado para fins de cura é simplesmente a reiteração dos já há
muito desacreditados poderes de cura do magnetismo. Um cristal é um
mineral inanimado que simplesmente não tem os poderes mágicos, místicos
e curativos que lhe atribuem, jamais evidenciados ou comprovados em
experimentos científicos controlados. Qualquer eficácia percebida ao
utilizá-los, na forma de uma sensação de proteção ou bem-estar, só pode
ser um efeito placebo...