O que é Paranormal
e Pseudociência?
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Paranormal e Pseudociência em exame
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A difícil condição humana
Por que o
esoterismo científico faz tanto sucesso?
Marcelo Gleiser
"Queremos saber mais do que podemos ver". Assim escreveu o
filósofo francês Bernard Le Bovier de Fontenelle, em 1686. Seu
livro tratava da possível existência de seres extraterrestres, à
luz do conhecimento científico da época. Naquele mesmo ano,
Isaac Newton, na Inglaterra, publicou o livro em que apresentou
as leis de movimento e da gravitação. A realidade física passou
a ser explicável a partir de equações determinísticas. Duas
massas se atraem com uma força que age à distância. Newton não
arriscou uma explicação para o misterioso fenômeno
gravitacional: como massas se atraem sem se tocar? Forças
invisíveis permeavam o espaço, a realidade estendendo-se além do
que podemos ver. A ciência explicava e criava mistérios.
Numa recente visita ao Brasil, inúmeras pessoas me perguntaram o
que achava do filme "Quem Somos Nós?" ou dos livros de Amit
Goswami e o absurdo "O Segredo". Todos oferecem uma visão
alternativa ao materialismo comumente associado à ciência. Tudo
é consciência, diria Goswami, e matéria e mente são
manifestações dessa consciência. Se você pensar positivamente
sobre sua vida, as coisas mudarão, mesmo que você não faça nada,
aprendemos em "O Segredo". Gostaria que todos os moradores da
Rocinha imaginassem um cheque de um milhão de reais chegando
para cada um na semana que vem.
A realidade é produto de nossas mentes e pode ser alterada,
vemos em "Quem Somos Nós". No filme, aprendemos mecânica
quântica com o espírito de Ramtha, um guerreiro de Atlântida que
viveu há 35 mil anos. Talvez as pessoas devessem ser informadas
que a maioria da equipe responsável pelo filme é devota de
Ramtha. O filme é propaganda para essa seita esotérica. Os
"especialistas" entrevistados são irrelevantes academicamente.
Li na contracapa do livro de Goswami que ele é "um dos físicos
mais importantes da atualidade". Absolutamente falso. A
credibilidade da ciência é manipulada para convencer as pessoas
da importância das novas revelações e dos novos "profetas".
Por que esse esoterismo pseudocientífico faz tanto sucesso? O
que as pessoas procuram nesses livros e filmes? Se seguirmos a
história da ciência e sua relação com a religião, vemos que,
após Newton, ficava difícil justificar a presença de um Deus
onipresente em um mundo controlado por leis, equações e seleção
natural.
Por outro lado, a ciência nada oferecia para alimentar a
necessidade espiritual das pessoas. Como conciliar o
materialismo científico com o ódio, o amor, a morte? No início
do século 20, a ciência mudou. A teoria da relatividade e a
mecânica quântica redefiniram a realidade física, os conceitos
de espaço, tempo e matéria. Apesar de essas teorias serem
perfeitamente claras dentro de seu contexto, sua natureza
filosófica, em particular, o papel do observador na prática
científica, abre espaço também para especulações filosóficas,
algumas iniciadas até por pioneiros da física quântica, como
Heisenberg e Bohr.
A apropriação dessas teorias pelo esoterismo é inevitável. É
fácil deturpá-las para afirmar que a nova ciência põe a
consciência humana no centro do cosmo; que o indivíduo tem uma
força que vai além de seu corpo; que nossas mentes são
conectadas com o cosmo e suas forças ocultas; que somos muito
mais do que aparentamos ser. Quem não quer ser mais do que é?
O sucesso do esoterismo pseudocientífico é reflexo da difícil
condição humana, da dificuldade de sempre aceitar que somos
seres limitados, com vidas finitas, num Universo que nada liga
para nossa existência. E que temos de assumir a responsabilidade
pelas nossas escolhas.
MARCELO GLEISER é professor de
física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do
livro "A Harmonia do Mundo"
Artigo publicado no
caderno "mais!" da Folha de S. Paulo em 11 de novembro de 2007. |
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