O que é Paranormal
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Paranormal e Pseudociência em exame
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Susan
Blackmore se desilude da Parapsicologia
por: Jorge A. B. Soares
Quando
em 1986 a Dr.ª Susan Blackmore escreveu a primeira edição do seu livro
Em Busca da Luz : As Aventuras de uma Parapsicóloga, sua
intenção era clara. Ela percebera que muitos jovens estavam buscando algo que a
ciência lhes negara, e voltavam-se então para o paranormal e para a Nova Era.
Ela admite haver aprendido da maneira mais dura possível o que acontece quando
alguém se propõe a testar fenômenos psíquicos e então resolveu compartilhar suas
experiências negativas com esses jovens esperançosos.
Quando ainda era estudante, Susan estava plenamente convencida da realidade dos
planos astrais, telepatia e vida após a morte. Num esforço decisivo para
demonstrar fenômenos paranormais, ela testou crianças em grupos de recreio,
treinou estudantes em imagística e estados alterados da consciência, e conduziu
experimentos com Tarô. Visitou casas mal assombradas e fez regressão a uma vida
passada. O livro autobiográfico Em Busca da Luz é uma
história pessoal simples e comovedora de como uma crente ardorosa em fenômenos
estranhos e maravilhosos pôs em cheque todas as suas crenças e terminou tendo
que mudá-las.
Eis uma breve sinopse do livro, em suas próprias palavras:
"Em
1970, enquanto estudante jovem e idealista, eu passei por uma dramática
experiência de viagem-fora-do-corpo que veio a alterar toda a minha vida.
Comecei a fazer meditação, estudei bruxaria e teosofia, aprendi a ler cartas de
Tarô e fiquei fascinada com os problemas da consciência e seus estados
alterados.
Eu estava convencida de que meus professores estavam totalmente errados e que a
Parapsicologia era a grande ciência do futuro. Decidi devotar minha vida a ela.
Sem bolsa de estudos ou suporte de qualquer espécie, eu dei um jeito de fazer
meu doutorado (PhD) em Parapsicologia e foi aí que minhas dúvidas começaram.
Cada investigação de fenômenos psíquicos que eu levava a cabo resultava menos e
menos convincente quanto mais eu aprendia sobre ela. Em cada experimento que eu
fazia obtinha resultados estatistísticos não significativos enquanto que meus
colegas declaravam ter obtido evidências de PES ou PK. Comecei a ficar um pouco
cética - e eventualmente fiquei cética p'ra valer.
O lado maravilhoso da ciência é que você pode usar seus métodos para estudar
praticamente qualquer coisa e, se você estiver preparado para manter sua mente
aberta, certamente achará a verdade. Para mim, ter a mente aberta significou ter
que mudar completamente todas as minhas crenças. Eu pensei que ia chocar o mundo
com as minhas novas e brilhantes teorias psíquicas, mas fui forçada a concluir
que eu estava errada. Mas ainda assim nunca tive certeza absoluta de que não
existem fenômenos psíquicos.
Essa foi uma grande experiência! Mas não é o tipo de experiência que eu
desejaria a outras pessoas. Portanto, decidi escrever acerca do meu trabalho
esperando que possa ter alguma utilidade para outros que pretendam vir trilhar o
mesmo caminho. A primeira edição do livro levava o título de As
Aventuras de uma Parapsicóloga e foi muito bem acolhida pela
crítica. Esta nova edição (2ª) inclui três novos capítulos. Eu espero que você
aprecie a minha história pessoal cuja conclusão única (quanto à realidade da
Parapsicologia) era, e é, "eu não sei".
O livro
Em Busca da Luz é uma ajuda preciosa para quem deseja
entender o estado atual das pesquisas em Parapsicologia. Quem não é especialista
nessa área tem muita dificuldade hoje em dia em descobrir quem está com a
verdade num cenário de conflito dominado por disputas entre parapsicólogos e
céticos, com acusações mútuas de preconceito, fraude, mentira, desleixo,
incompetência e outros "elogios" do gênero.
Acompanhando passo a passo a trajetória da vida de Susan Blackmore, através da
leitura do seu livro, dá para entender claramente o que acontece nos meandros e
bastidores desse meio científico peculiar e fica-se com uma impressão final
muito desfavorável quanto ao futuro da Parapsicologia como ciência.
Atualmente a Dr.ª Susan Blackmore é membro destacado do CSICOP - Comitê para
Investigação Científica de Alegações do Paranormal e é tida como a maior
especialista mundial em experiências de morte iminente. Ela é autora de
numerosos livros, incluindo Dying to Live.
O livro In Search of The Light foi publicado em inglês
em maio de 1996 pela editora Prometeus Books, ISBN: 1573920614, com 286 páginas.
Abandonando os fantasmas:
o fim de uma busca pessoal
Na edição do New Scientist, de 4/11/2000, e posteriormente na edição do
Skeptical Inquirer de Março/Abril 2001, Susan Blackmore divulgou uma nota
pessoal vazada nos seguintes termos:
Finalmente. Eu fiz. Joguei a
toalha, larguei o vício, e abstive-me da droga (paranormal). Após trinta
anos, livrei-me de uma terrível dependência.
Pensando bem, ainda não estou certa de ter feito um tratamento de choque. Há
um mês apenas eu estava em minha última conferência de pesquisas
paranormais. E faz somente uns dias que esvaziei as últimas estantes
daqueles arquivos meticulosamente organizados, lutando contra a pequenina
voz que prevenia: "Não faça isso - você poderá precisar ler isso outra vez"
enquanto uma grande onda de alívio varreu-a para longe com o pensamento
"Você desistiu!" Documento após documento sobre PES, psicocinese, animais
sensitivos, aromaterapia e casas mal assombradas são atirados no saco de
lixo reciclável. Se os "sintomas de remoção" (da droga) atacarem, os homens
do lixo reciclável já terão levado a minha "dose".
Na verdade sinto-me um pouco triste. Trinta anos atrás eu tive uma dramática
experiência de viagem fora do corpo que me convenceu da realidade dos
fenômenos paranormais - e me lançou numa cruzada para mostrar a todos
aqueles cientistas de mente estreita que a consciência poderia estender-se
além do corpo e a morte não era o fim. Apenas uns poucos anos de cuidadosos
experimentos mudaram tudo isso. Eu não encontrei nenhum fenômeno paranormal
- apenas racionalização de desejo, auto-engano, erro experimental e mesmo
alguma fraude ocasional. Tornei-me uma cética.
Assim, porque não desisti então? Existe um monte de falsos motivos. Admitir
que você está errada é sempre difícil - mesmo que seja uma habilidade que
todo cientista tem que aprender (ou alguns cientistas estão sempre certos?).
Mas fica cada vez mais fácil com a prática e eu não mais receio ter que
mudar de opinião. Começar de novo como um bebê num campo novo é uma
perspectiva desalentadora. Também é perder todo o status e poder advindos de
ser uma especialista. Eu tenho que confessar que adoro o meu conhecimento
arduamente adquirido. Sim, eu li o trabalho de Michael Faraday de 1853 sobre
mesas giratórias, os primeiros estudos da década de 30 sobre parapsicologia,
e os últimos debates sobre meta-análise de experimentos de PES controlados
por computador, sem deixar de lado o infame estudo de Scole (New Scientist,
22 de janeiro, 2000). Deveria eu sentir-me obrigada a continuar usando esse
conhecimento, se pudesse? Não. Chega, de uma vez por todas. Tudo isso nunca
levou a nada. Essa é uma boa razão para parar.
Mas talvez a razão verdadeira é que eu estou apenas muito cansada - cansada,
acima de tudo, de trabalhar para manter a mente aberta. Eu não podia
descartar de imediato todas aquelas afirmações extraordinárias. Afinal de
contas, elas poderiam ser verdadeiras, e caso se revelassem verdadeiras
grandes blocos de ciência teriam que ser reescritos.
Aparece um outro sensitivo alegando possuir poderes paranormais. Eu preciso
delinear mais experimentos, levar a sério suas reivindicações. Ele fracassa
- outra vez. Vejo uma foto de Cherie Blair usando seu "escudo bioelétrico".
Me incomoda que há gente pagando preços elevados por engenhocas
fraudulentas. Faço os testes. Os "escudos" não funcionam. Ninguém quer
saber, pois resultados negativos não são notícia. Um homem me explica como
os seqüestradores alienígenas implantaram algo no céu da sua boca. Testes
revelaram que é apenas uma obturação - mas pode ter sido. . . .
Não, eu não tenho mais que pensar desse jeito. E quando os sensitivos,
videntes e adeptos da Nova Era me gritarem (como sempre fazem) "O problema
com todos vocês cientistas é que vocês não têm uma mente aberta," eu não me
perturbarei. Eu não discutirei. Eu não sairei apressadamente a fazer ainda
mais experimentos por via das dúvidas. Eu vou sorrir afavelmente e dizer,
"eu não faço mais isso atualmente."
- Susan Blackmore
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