James Randi
expressa suas convicções


Quase um terço dos americanos acreditam que a antiga profecia maia de calamidade global em dezembro de 2012 é "parcialmente verdadeira", de acordo com uma pesquisa recente da National Geographic. A profecia é baseada em um enorme calendário de pedra em forma de roda, mas a natureza exata do desastre — já objeto de grandes filmes e tema para um anúncio do Super Bowl de humor extremamente negro — é uma questão em aberto. Talvez um apocalipse será provocado por gasolina cara ou outra birra do Charlie Sheen. Ou talvez aqueles mexicanos antigos simplesmente ficaram sem estoque de pedras.

Eu sou um mágico de profissão, agora aposentado e dedicado a comunicar os fatos sobre o paranormal e ocultismo, entes sobrenaturais, alegações de poderes psíquicos e histórias que abundam. A minha organização — a Fundação Educacional James Randi (JREF) — serve como fonte de informações sobre o que eu chamo de “besteira”. Nós trabalhamos com um grande número de cientistas, estatísticos e especialistas para avaliar e desmascarar para o benefício dos meios de comunicação, cientistas, escritores, estudantes, e os meramente curiosos.

Nossos esforços trouxeram a JREF para a vanguarda do movimento cético mundial, seguindo os passos de Carl Sagan, Isaac Asimov, Martin Gardner, Richard Feynman, Sir Arthur C. Clarke, e tantos outros — e eu tenho orgulho em dizer que eu conhecia bem todos eles.

Nós fazemos isso dia após dia. E os seres humanos não nascem loucos. Mas de alguma forma a ciência do absurdo tem o que parece ser uma base de apoio permanente em nossa cultura.

Nem toda a dissonância é perigosa. O público em geral aceita, obviamente, algumas crenças falsas: baleias são peixes, nós utilizamos apenas cerca de 10 por cento de nossos cérebros, a "energia livre" (moto-contínuo) está ao virar da esquina para todos nós...

Errado, mas não louco.

Agora considere o seguinte: Cerca de 70 por cento dos americanos acreditam em algum aspecto do paranormal — PES (Percepção Extra-Sensorial), demônios, fantasmas, homeopatia, e cura espiritual. Mais de 25 por cento acreditam que há seres humanos que podem prever o futuro "psiquicamente". Cerca de 20 por cento acreditam que é possível falar com pessoas mortas (e que os mortos respondem).

Em outras palavras, uma parcela considerável da população dos EUA aceita como certo que existe um mundo invisível de poder paranormal mágico, e tudo o que resta é descobrir como tirar proveito disso. Alguns pagam regiamente essa busca, em vão.

Traços de personalidade, motivação psicológica, cognição falha, instabilidade emocional, demografia local, influências sociais — tudo isso pode contribuir para o que poderia ser chamada de Síndrome da Falta de Razão. Vamos adicionar também: ignorância básica. Mas a psicologia experimental tem ainda de explicar cabalmente por que seres essencialmente racionais parecem precisar ser pelo menos um pouco irracionais.

Mas nós seres humanos somos ingênuos e não muito perspicazes. No meu mundo, essas desvantagens e o desejo inato de acreditar
de uma audiência, combinam-se para, bem, fazer mágica. O truque realmente acabou antes mesmo de começar, porque o mágico, sem você perceber, manipulou o seu comportamento para adequá-lo às suas necessidades.

Isso é apenas uma boa diversão. Os desafios no mundo real são muito maiores.

Embora a comunidade científica nem sempre tenha sido suficientemente veemente sobre bobagens paranormais e fraudes, não se engane: O meu respeito pela ciência verdadeira não tem limites. Sim, o meu trabalho inevitavelmente aponta onde a ciência, por uma razão ou outra, às vezes falhou ao não policiar os seus. Mas eu acredito — eu sei — que a ciência é uma busca gloriosa e justa.

E assim começo o meu trabalho aqui na Wired Opinion com uma declaração pessoal direta e firme das minhas convicções pessoais, derivadas de mais de 60 anos de estreita colaboração com cientistas dedicados e meios de comunicação responsáveis:

Essas bestas míticas muito populares — PES (Percepção Extra-Sensorial), psicocinesia, profecia, etc. — não existem.
A homeopatia é uma farsa perigosa.
A cura pela fé é uma piada mortal.
O movimento perpétuo é um sonho juvenil.
O Uri Geller é um mágico de meia-tigela.
Os mortos não falam com ninguém.
A religião é uma antiga noção que precisamos superar.
É isso aí!

Uma vez identificada a doença, a questão é, o quanto o paciente está disposto a participar de uma cura? Descobrir isso é parte ciência e parte arte.

A indústria da publicidade sabe disso. Eles sabem que os consumidores costumam responder a truques de etiquetagem de preços que não se sustentam ao menor escrutínio. Um estudo da Cornell University em 2009 descobriu que temos a tendência de interpretar números precisos maiores do que números arredondados, como sendo menores: Os participantes, por exemplo, julgaram incorretamente que US$ 395.425 dólares eram menos que US$ 395.000.

A mente cética fica confusa ...

Deixe-me esclarecer mais uma coisa: É fácil confundir "ceticismo" e “cinismo”. Um cético duvida e exige evidência além da língua afiada de um apresentador charmoso. Um cínico acredita que ninguém diz ou faz alguma coisa que não renda nem lucro nem proveito.

Peço que os nossos leitores permaneçam céticos sobre o que nós apresentamos a você, para que possamos jogar bola de igual para igual.

Dito isto, fique firme. Nós na JREF temos algumas coisas interessantes para compartilhar...



 


   
 

Este artigo foi originalmente publicado em 09/03/2012 na Wired Opinion sob o título “America, the Beautiful (And Nutty): a Skeptic’s Lament”.

Visite:  James Randi Educational Foundation (JREF)